sábado, 21 de fevereiro de 2015

Vamos dar uma pausa!

Olá, meus amigos! Sim, eu sei que já faz tempo que não ando dando notícias dos bicos, me desculpem! Aliás, vocês devem até estar imaginando (ou não, né! Imagina ficar perdendo tempo com esse que vos escreve?) que eu devo ter sido contratado e que já voltei ao "corre corre" do assalariado, certo? Mas saibam que a resposta para essa pergunta é não, minha gente! Mas calma lá, pois embora eu ainda não tenha recebido nenhuma proposta de trabalho no estilo "carteira assinada", saibam vocês, meus amigos, que fui agraciado por alguns trabalhos temporários! Ufa! Embora sejam projetos curtos, estão sendo extremamente importantes para mim. Sendo assim, quero mudar um pouco as regras do jogo. A ideia era encerrar a série quando eu conseguisse um emprego, certo? Então, quanto a isso, fiquem tranquilos, pois é imexível. Por outro lado, vou pedir licença para vocês e retornar aos bicos, somente quando eu estiver livre e desimpedido, pode ser? Esse pedido é por conta do tempo que preciso nesse momento, para tocar esses trabalhos e ao mesmo tempo, manter a função de pai e marido, ativas. Bom, acho que é isso! Muito obrigado a todos e fiquem de olho, pois os bicos podem voltar a qualquer momento!  #UmBicoPorDia

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

65 #Barista

Imagina só pegar um bico, para quem sabe, virar um profissional especializado em cafés de alta qualidade? Pois é, meus amigos, esse é basicamente o papel do BARISTA. Do cultivo da planta até a bebida pronta, lá está ele. Como sou biólogo e apreciador de café, eu nem pensei duas vezes, fui logo até o Café Lisboa e perguntei se estavam precisando de um barista por lá. Não estavam, mas como gostaram de saber que sou biólogo, acharam que isso poderia ser interessante para as vendas. Eu concordei, é claro. Graças aos meus bicos no bar da minha tia (bico #45), eu já tinha uma noção do preparo do café em máquinas de expresso, mas em outros métodos de preparo, ainda não. Tem o coado, infusão, pressão a vácuo... A idéia era que eu fosse aprendendo cada um dos métodos, mas de início, ficaria na máquina de expresso mesmo. Meu primeiro cliente pediu um café com uma leve espuma de leite (macchiato). O segundo, um café com espuma de leite e calda de chocolate (mocaccino) e assim por diante. Tudo ia muito bem, até que entre um café e outro o pó terminou. Como assim "o pó terminou"? Eu estava em um café e falta pó para fazer café? E coube a quem ir atrás de mais pó? Tcham tcham tcham tcham. Eu, claro! Peguei o carro do Lisboa e fui até o fornecedor para trazer mais. Quando cheguei, o dono disse para eu pegar os sacos de pó que estavam próximos do portão da empresa. Peguei os sacos, carreguei o carro e voltei correndo para o Lisboa. Estava cheio de gente aguardando para tomar um café. Parecia até que era fila de sopa na rua. O primeiro café que fiz, depois que voltei, o cliente gospiu e quase atingiu a minha cara. Ele disse que tinha gosto de terra. Eu comentei que deveria ser o terroir do café, não? O segundo cliente achou o mesmo, o terceiro também, o quarto........ai eu comecei a achar estranho. Tomei um café com aquele pó e achei horrível. Chamei até a Dona Matilda, a dona do Café. Ela tomou e gospiu na hora! Que pó era aquele?  Pediu para ver a embalagem que aquele "café" tinha vindo. E quando peguei a embalagem, li: "terra vegetal". Putz! Eu fiz os clientes tomarem terra vegetal diluída em água quante? Uia. Embora a Dona Matilda tenha entendido que foi uma distração, não quis mais apostar em meus cafés, pois segundo um dos funcionários, ela correria o risco de eu fazer cafés de esterco, lixo orgânico.. E viva o papel do barista! #UmBicoPorDia.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

64 #Garrafeiro


Eu juro que eu achei que não existisse mais a figura do GARRAFEIRO, mas ele existe sim! Embora a gente chame de "catador", saibam vocês que existem catadores específicos para cada tipo de material reciclável ou reutilizável. Antigamente o garrafeiro, era o nome dado aqueles que compravam ou pegavam garrafas usadas encontradas  nas ruas da cidade, em carroças de tração animal. Mas o tempo passou, e hoje existem poucos comparado aqueles que no passado, viviam dessa coleta. Eu nunca tinha reparado, mas na minha rua mesmo, de madrugada, passa um garrafeiro. Segundo o Zé, o porteiro do meu prédio, ele se chama Seu Nico e trabalha sozinho. Não é só pela necessidade de pegar um bico e ganhar alguns trocados, mas a curiosidade conta bastante. E eu estava interessado em descobrir o que acontece com as garrafas? Ele sobrevive apenas dessa coleta? Enfim, montei vigília de madrugada e consegui falar com o Seu Nico. Ofereci o bico e ele topou na hora. O meu trabalho iria ser no seu galpão. Lá vi uma montanha de garrafas de cerveja, suco, água, licor, vinho, whisky, vodka, cachaça, perfume....tinha garrafa de tudo e com toda cor. Ele não vivia disso, mas colecionava garrafas, muitas garrafas. Pediu que eu organiza-se tudo aquilo por coloração. Dito e feito. Organizei tudo sem que houvesse nenhum problema. Faltava agora, só o Seu Nico dar uma olhada e me dizer se estava mesmo tudo "ok"! Chegando, ele olhou, olhou e olhou sem dizer nada. Olhou para mim e emocionado disse: "essas garrafas são minha vida! Elas são raras e fazem parte de uma coleção que começou com o meu avô. Obrigado!". E eu achando que eram garrafas sem valor algum! Aff! O Seu Nico já tinha falado para eu voltar no dia seguinte, quando tropecei numa maldita rolha. E para não cair de cara no chão, apoiei em um armário, que caiu é claro, caiu sobre as tais garrafas raras que eu havia organizado. Putz! De emocionado, ele virou uma fera e quase me engarrafou ali mesmo. Pedi mil desculpas, mais uma vez, mas não teve jeito, o homem ficou chorando sobre cada caco. Magoei. E viva o papel do garrafeiro! #UmBicoPorDia

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

63 #Bordadeiro

Enxaqueca. Ninguém merece isso. Coloquei na lista das possíveis causas: noites mal dormidas, algo que comi e não caiu bem, o pedreiro que sumiu (estamos em obras no apto), culpa da Dilma...? Enfim, na incerteza do que teria causado essa turbulência cerebral, coube a mim descansar e me dar um dia livre na busca pelo emprego e na atualização do blog. Me desculpem, mas também sou humano, né! Mas vamos lá, ontem eu ainda estava com a cabeça com os "sinos balançando". Era até um balanço leve, mas já o suficiente para incomodar. Sendo assim, resolvi tentar pegar um bico pra fazer em casa. Home office. Ócio criativo. Esse é o futuro, minha gente! Lembrei de uma costureira amiga de minha mãe, a Dona Gertrudes. Minha ideia era oferecer a ela o serviço de BORDADEIRO. Eu nunca bordei nada. A única coisa que sei fazer é prender botão e fechar, de maneira muito ruim, rasgo em tecido. Mas como é que ele quer pegar um bico de bordadeiro, se mal sabe costurar? Pois é, concordo com vocês. Mas felizmente existe uma coisa chamada "YouTube"! Lá você pode encontrar por exemplo: Como ensinar um caranguejo a andar para frente? Como respirar embaixo da água? Como ensinar um gato a latir e um cachorro a miar? Tem tudo lá. E se tem tudo, é claro que teria aulas de bordado. Depois de fazer um curso rápido de 1 hora, fui falar com a Dona Gertrudes. Ela até me perguntou se eu bordava, e eu disse que não, mas havia aprendido recentemente (eu não precisava falar que tinha aprendido somente há algumas horas atrás, certo?). Ela me deu alguns panos de prato e pediu que eu bordasse flores neles. Peguei tudo, cheguei em casa e mandei ver na agulha e nas linhas. No início mandei ver mais na agulha, pois espetei o meu dedo algumas dezenas de vezes. Mas sabe que isso até teve um lado bom! A enxaqueca parou para dar voz ao meu dedo, que mais parecia um pequena peneira. Dedal? Ah! Fui descobrir depois. Aff! Eu não conseguia bordar nem uma reta. Como é que eu iria fazer uma flor? Depois de algumas horas, finalmente comecei a bordar algo. Não era uma flor. Na verdade, não era nada. Por mais que eu me esforçasse para bordar um lírio ou uma margarida, acabava saindo algo abstrato demais. Incompreensível até.  Mas e se eu convencesse a Dona Gertrudes a vender panos de prato com bordados abstratos? Era isso! Bordei todos e levei para ela ver. Chegando lá, sem dizer nada, a Dona Gertrudes pegou um pano, virou e desvirou. Pegou outro, virou e desvirou. Pegou todos e fez a mesma coisa. Dai ela olhou para mim e disse: "Luccas...me desculpe, mas eu não estou interessada em vender tela de quadro, mas pano de prato!". Eu não sabia o que dizer. Até tentei explicar para ela que foi uma forma que "criei" para que as pessoas passassem a dar mais valor ao pano que só seca pratos. Ela riu e disse: "Não! Pano de prato é pano de prato. Bordado é bordado. E bordado não é isso você fez!". Eu me esforcei, mas tudo bem! Então, viva o papel do bordadeiro! #UmBicoPorDia       

sábado, 7 de fevereiro de 2015

62 #Desinsetizador

Quando estava na faculdade de Biologia, a minha disciplina predileta era (e sempre será) a Zoologia, a ciência que estuda os animais. E lembro que o principal trabalho que deviamos entregar era montar um insetário, ou seja, uma pequena coleção de insetos. Alguns colegas sofriam só de pensar que teriam que fazer. Claro que isso nem se compara ao sacrifício dos insetos, que infelizmente eram capturados, sacrificados, montados e devidamente etiquetados no insetário. Como eu já montava os meus insetários desde pequeno, graças aos ensinamentos do meu avô naturalista, não tive problema algum. Eu sempre fui bem seletivo na captura e me preocupava em evitar ao máximo seu sofrimento. Se alguém da família achasse um inseto morto, já sabia muito bem quem deveriam avisar. Muita gente tem nojo, medo e fobia dos insetos e outros seres rastejantes. Posso estar enganado, mas acredito que a maior parte das pessoas os desconhece profundamente. E quando existe espaço, as lendas e crendices se apossam e resistem às informações corretas a respeito do maior grupo do Reino Animal, os insetos. Tenho um colega de faculdade, o Luciano, que montou há um tempo atrás, uma empresa de desinsetização. Quando ele ficou sabendo que eu estava desempregado, não pensou duas vezes e me ligou, já que estava precisando de um DESINSETIZADOR que fosse biólogo, na equipe. Logo pela manhã a meu desafio era ir até uma casa na Zona Sul, que segundo os donos, vivia recebendo muitas baratas e as vezes, aranhas e escorpiões (só para deixar claro que aranhas e escorpiões não são insetos, mas aracnídeos, ok!). Logo que cheguei na rua dessa casa, vi que ela ficava entre dois terrenos baldios com mato alto e cheios entulho e lixo. Conclusão mais óbvia? Os bichos usavam a casa como abrigo e os terrenos como "restaurante". As baratas se multiplicavam com a oferta de alimento e isso passava atrair predadores, como as aranhas e escorpiões. Depois de alertarmos os donos que teriam que denunciar para a Prefeitura, a situação dos terrenos baldios, faltava agora dar uma olhada na casa. Olha aqui, olha ali, olha lá e nada. Em todo o caso instalamos iscas para as baratas e aplicamos os devidos produtos em cada canto daquela casa. Quando estava para sair, resolvi dar uma olhada em um móvel grande, logo na entrada da residência. E não é que achei uma Nephila, uma aranha inofensiva, de muitas colorações e que é muito comum de ser encontrada em sobrados e varandas, onde constrói suas teias. O estranho era ela estar no chão, já que gosta mesmo é dos cantos nas alturas. Mas quando vi que a dona da casa estava passando um rodo com pano nos cantos do teto, logo imaginei o que havia acontecido com a "dona aranha". Quando o dono da casa notou que eu havia encontrado uma aranha, logo exigiu que eu a matasse. Eu disse que era uma aranha inofensiva, que contribui para controlar a população de muitos insetos....mas ele foi irredutível. Claro que eu não iria deixar a aranha dentro da casa, mas iria realojá-la em outro lugar fora da casa. O dono disse que eu deveria matar a aranha ali mesmo, para ele ter certeza. Eu disse que não mataria ali e em nenhum outro lugar. O Luciano interviu e disse para eu fazer o que o cliente dizia. Eu disse que não. Ai eu pensei, vou simular que a matei e tiro ela daqui sã e salva. Peguei o produto e quando estava para encenar o "seu sacrifício", cadê a aranha? Ela havia sumido. Olhei para um lado, olhei para o outro e nada. Quando me levantei para dizer que não a encontrei, o dono saiu correndo junto com a mulher, o Luciano que já era um medroso na faculdade, foi atrás. Eu não entendi nada. Fui até atrás para perguntar o que houve, mas foram parar do outro lado do quarteirão. Caramba! O que aconteceu com eles? E quando passei pelo carro da empresa, percebi pelo reflexo no vidro, a aranha sobre a minha cabeça. Rs. O bico não deu muito certo, mas a aranha até "sorriu" para mim! E viva o papel do desinsetizador! #UmBicoPorDia             

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

61 #LimpadorDeVidros

Estou dando sorte (ou azar) dos bicos terem a água como coadjuvante, pois assim, pude e poderei levar um pouco de consciência ambiental aos meus contratantes. Entregador de água (bico #12), lavador de pratos (bico #58), lavador de carros (bico #60) e ontem fui o LIMPADOR DE VIDROS. Não teve muito segredo, mas embora eu goste muito de aventura e esportes radicais, confesso que o Equipamento de Proteção Individual (EPI) oferecido pela Limpa Alto, do Seu Aranha, estava deixando a desejar. Tive a "sorte" de ter sobrado para mim, um único. Porém, era velho e cheio de gambiarras. Eu não iria usar aquilo, nem a 1, a 2 e muito menos a 40 metros de altura. Nananinanão! O Seu Aranha até se esforçou para me convencer, mas com segurança não se brinca, "meu irmão"! Ele precisava entregar o prédio com os vidros limpos até o final do dia, só estava com um funcionário para fazer a limpeza interna dos vidros, então eu propus ajudar do lado de dentro, porque se "estrupiar" há 40 metros de altura, não era o que eu queria para mim. Com o balde, sabão, panos e rodinho na mão, lá fui eu começar a limpeza. O combinado foi eu fazer do 12º andar ao 06º andar. Decidi começar de cima para baixo. 12º, 11º e quando estava no 10º andar, notei que a galera que estava fazendo a limpeza externa, estava com a mangueira com água correndo. A base do prédio já se transformava em um pequeno lago de água desperdiçada. Putz! Assim não dá, Seu Aranha! Fui até a cobertura e fechei a água. Logo que fiz isso, os malucos que toparam ficar pendurados, reclamaram ao ver minha cabeça no topo do prédio. O Seu Aranha imediatamente subiu onde eu estava, mas como eu tranquei a porta de acesso a cobertura, eu só ouvia ele batendo na porta e gritando coisas que nem merecem ser descritas aqui. O chefe mal educado! Mas vejam só a que ponto cheguei: sequestrar o registro da mangueira! É a crise hídrica, meus amigos! A negociação era muito simples. Bastava que ele determinasse que usassem a água com responsabilidade, pô! Depois de explicar o ciclo da água e a situação crítica de nossos reservatórios, o Seu Aranha concordou e eu liberei o uso moderado do registro. Eu fui pra rua, mas pelo menos espero ter aberto o cano da consciência em alguém. E viva o papel do limpador de vidros! #UmbicoPorDia           

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

60 #LavadorDeCarros

Enquanto eu não mostrar para as pessoas, que é essencial usar a água de maneira econômica e sustentável, não vou sossegar! Pessoalmente já estou nessa jornada pela água, há muito tempo. Quanto aos bicos, estou desde aquele em que fui entregador de água (bico #12), vocês lembram? O último foi o de lavador de pratos (bico #58). Ok! Eu sei que o final não saiu muito como eu queria, mas eu espero ter feito pelo menos alguém entender a necessidade de usarmos a água com responsabilidade e pensando no futuro (lembrando que o futuro pode ser até o dia de amanhã, hein!). Há duas ruas pra cima de casa, tem um lava rápido do Posto Menina. Com essa crise hídrica, felizmente eles tomaram a decisão certa, e passaram a fazer a lavagem a seco dos carros. Se você acha que lavagem a seco é feita pelo sopro dos funcionários, por um ventilador ou pelo aspirador de pó, você está enganado! A lavagem a seco é uma técnica em se utiliza apenas duas coisas: uma cera líquida especial e algumas flanelas. Com isso podemos economizar até 500 litros de água, que costuma ser a quantidade de água utilizada em uma lavagem de carro, acreditem! Enfim, como sou amigo do dono, o Seu Gianetti, não foi difícil conseguir uma oportunidade para "embicar" por lá! O processo era muito simples, em uma hora, eu consegui lavar quase dois carros. Para quem nunca tinha lavado um carro a seco, eu estava muito bem! Até que chega uma caminhonete 4x4 lotada de barro. Logo que vi, já imaginei que levaria um bom tempo nela. Como eu teria que usar muito mais cera do que cabe um spray, fui pegar mais no latão que me indicaram. Embora a cor do material fosse diferente, eu peguei com a flanela e comecei. O barro parecia que estava se liquefazendo. Estava tudo indo fácil até demais. Quando eu estava do outro lado da caminhonete, um dos lavadores, me chamou do lado em que eu havia começado. Curioso, fui ver o que ele queria me mostrar. E quando olhei para a lataria, não tinha barro, brilho e nem a pintura da caminhonete. Putz! Era uma mancha branca que ia do pára choque até a traseira da caminhonete. Ele ria e me perguntou que material eu usei para limpar. Eu disse que era aquele do latão. Com espanto ele me olha e diz: "Noooossa! Aquilo é ácido, Luccas!". Eu fiquei paralizado e quando olhei para trás, quem estava me olhando? O dono da caminhonete é claro! Ele não conseguia nem falar. E eu então.... O Gianetti até correu até a conveniência, para pegar um copo de água com açúcar, e ver se acalmava o cliente. Ele tomou o copo e com um gesto agressivo, jogou o copo contra o chão e veio para cima de mim. Eu não pensei duas vezes, subi na carroceria e fiquei em cima dela. Como o cliente estava um pouco acima do peso, não conseguia subir para me pegar. Até que ele cansou e decidiu sentar para descansar. Nesse momento, a distância, eu pedi mil desculpas e disse que se ele não se importasse, eu poderia completar a limpeza e deixar sua caminhonete por igual, ou seja, branca inteira. Ele levantou novamente e saiu correndo atrás de mim. Consegui escapar. Ufa! Mais tarde liguei para o Gianetti para me desculpar, mas ele não atendeu. Vá saber o porquê! E viva o papel do lavador de carros! #UmBicoPorDia          

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

59 #Alfaiate

Uma coisa é cortarem você de um passeio, outra coisa é cortarem você do seu emprego. Ninguém espera ser demitido (ou espera ?). No meu caso, sempre chegava ao trabalho para fazer o meu melhor. Nunca havia sido demitido, mas em um belo dia, você não espera e acontece. Não podemos controlar as coisas e nem as pessoas. Cada um pensa de um jeito. E tem mais, muitas vezes a razão de uma demissão é tão subjetiva que procurar entendê-la é pura perda de tempo. O melhor mesmo é poder viver livre e longe daquilo que não representa você. É buscar o tão sonhado bem estar, sabem? Bom, chega de filosofar! Como estávamos falando de "corte", ontem mesmo apareceu um bico de ALFAIATE, acreditam? Pois é, eu resisti, pois trabalhar com tecidos não é coisa tão simples assim! A oportunidade era para ajudar a Dona Alzira, uma costureira já de "certa idade", aqui da rua, que não estava mais conseguindo dar conta do recado. O serviço nem era tanto, mas a idade já estava pesando para ela. Além de costureira ela também atuava na alfaiataria. Além dos costumeiros vestidos, ela também criava blazers e ternos impecáveis. Eu fui bem sincero. Disse que não era do ramo, mas poderia aprender esse ofício. Lembro até que ganhei o concurso do "Mais rápido prendedor de botões" da minha escola. Rs! Agora, cortar tecido e fazer uma roupa, era algo bem distante da minha "zona de conforto". A Dona Alzira nem se preocupou, e disse que por ela, o bico era meu. Eu não acreditei naquilo, mas depois que ela me deu um curso instantâneo, eu não via a hora passar a tesoura! Meu primeiro pedido: cortar o tecido para fazer um terno branco. Peguei os moldes e comecei a cortar a calça, o paletó e o colete. Com tudo cortado, faltava agora é costurar as partes, oficio que ficaria para a Dona Alzira. Organizei as peças na mesa e já fui pegando mais tecidos para cortar. Agora seria para um paletó verde. Peguei o padrão de cor, encontrei o tecido correto, joguei ele por cima da mesa e comecei a cortar. Enquanto eu cortava o tecido, o cliente do terno branco chegou para ver como andava o trabalho. Entusiasmado, eu logo puxei os cortes para mostrar a ele. E foi só levantá-los que notei que o corte da calça estava estranha. Faltava uma perna. Ops! E a manga direita do paletó, estava curta em relação a esquerda. Ops! Eu não estava acreditando. O cliente ficou mudo e a Dona Alzira, pasma! Como é que eu fui capaz de cortar um tecido em cima de outro? A tesoura do verde acabou com o serviço do branco. Eita! Pedi desculpas, mas a Dona Alzira ficou tão nervosa com aquilo tudo, que me deu um baita de um corte. Um corte no bico. Fui pra rua mais uma vez, mas viva o papel de alfaiate! #UmBicoPorDia

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

58 #LavadorDePratos

Com essa crise hídrica assolando as cidades, toda economia que podermos fazer com a água é válida. E se estamos utilizando, saibam que muitas vezes podemos reutilizar a água para outro uso. Por exemplo, aqui em casa quando vamos tomar banho, já levamos o balde junto, pois é ele quem vai coletar a água que vamos mais tarde, utilizar na descarga. O balde virou o nosso companheiro de banho. Quando "vamos" (a louça de casa é minha responsabilidade, logo...) lavar a louça, colocamos antes uma bacia no fundo da pia para coletar a água que utilizaremos na lavagem. Essa água também é utilizada mais tarde, na descarga. Mas nem todo mundo está preocupado com o uso sustentável desse recurso tão essencial para a nossa vida, infelizmente. O restaurante aqui da rua, o Cataratas (o nome já diz tudo, não?), lava a calçada todo santo dia. Como é que pode? Já foram multados várias vezes, mas parece que não aprendem nunca. Como eu precisava de um bico mais frio, já que os últimos foram muito quentes e danosos, resolvi dar as caras no Cataratas e pedir um bico de LAVADOR DE PRATOS. A ideia não era só ganhar uns trocados, mas tentar educar os garçons e principalmente o dono, o Seu Roberto. Com o trato feito, faltava agora começar o "trampo" de lavador e educador ambiental. Fiz esse bico ontem, e embora tenha começado logo cedo, ele não durou muito. Logo que cheguei, vi a pia acumulada de louça. Era tanta, que a cada olhada, parecia que havia algo a mais naquela pilha suja. Estariam elas se reproduzindo por geração espontânea? Enfim, peguei um pano para enxugar, uma bacia para acumular a água e mandei ver na lavagem. Lava aqui, lava lá. lava ali. E como lavar louça para mim é terapêutico, estava muito relaxado. Só me esqueci que estava em um restaurante. E restaurante tem pedido. E pedido tem louça. O Seu Roberto, quando viu o que eu estava fazendo, disse para eu parar com tudo aquilo e passar a lavar louça direto. Eu resisti e expliquei a ele que na verdade, eu estava fazendo o certo, ou seja, pensando no futuro da água. Ele disse que "não estava nem aí com o futuro da água", vejam só! Eu fingi que não era comigo e continuei a lavar como eu estava fazendo. E ao me ver, ele voltou e fechou o registro. Eu disse que assim estava ótimo. Quem sabe dessa maneira ele entendia de uma vez por todas o que é a falta de água. O homem começou a ficar nervoso e sem pensar, pegou a bacia que acumulava água e despejou em cima de mim. Foi um banho de água fria e engordurada. Eu juro que nem liguei por estar encharcado de água de louça, mas fiquei bem triste com aquela água toda no chão. Pelo jeito, o Cataratas só vai entender quando virar Córrego! Vamos lá pessoal, repensem o uso da água, reduzam e se possível reutilizem! E viva o papel do lavador de pratos! #UmBicoPorDia

domingo, 1 de fevereiro de 2015

57 #Chapeiro


Já vou logo me desculpando pela demora em compartilhar com vocês mais um bico, mas como vocês sabem, tive a minha mão, literalmente passada, há dois dias atrás (bico #55). E como o descuido me trouxe bolhas, tive que dar um descanso antes de voltar a digitar para vocês. Aliás, eu nem me recuperei direito, e ontem mesmo, já fui chamado para pegar outro bico que envolvia alta temperatura, o de CHAPEIRO. O chamado era veio da Padaria Trigo Bão (bico #09), onde tenho amigos. Com a mão passada ou não, não importava, pois fazer bico é um dever. Especialmente quando se está desempregado e a procura de um espaço nesse mercado desigual e insensível. Fui chamado para substituir o Pedrinho, um chapeiro "profissa" da "padoca". Como ele estava de licença médica, por uma fratura, ou melhor, duas fraturas. Ele quebrou as duas mãos. Acreditam que ele foi capaz de quebrar as duas ao mesmo tempo? Pois é, as mãos andam bem ameaçadas! Enfim, o segredo era não deixar queimar nada por lá, já que na minha última passagem pela padoca, foi isso que aconteceu! O dia começou bem. Logo de manhã o que mais saiu foram os "chapados" (pão na chapa) com manteiga e requeijão. Até aí tudo bem, pois é um pedido clássico em toda e qualquer padaria. O curioso foi o que um cliente pediu: pão integral na manteiga, requeijão e uma fatia de picanha com a borda de gordura. Picanha? Borda de gordura? Logo de manhã? Onde já se viu? Será que ela achava que estava compensando a gordura com o pão integral? Aff! Eu disse que não faria. O cliente pode ter toda a razão, mas eu era responsável direto pelo que aquele iria ingerir. Logo, disse que faria um mais light. Ele disse que chamaria o gerente se eu não fizesse. Para negociar, disse se não poderia ser com "peito de peru light". Aos gritos, ele disse: "PICANHA COM BORDA DE GORDURA"! A padoca inteira parou para ver o que estava acontecendo. Para abafar a situação, disse alto e para que todos ouvissem: "É claro, senhor! Farei o seu pão integral com picanha e gordura, mas por favor, se o senhor continuar com esses hábitos, terá risco maior de sofrer diabetes, hipertensão e obesi". Ops! Fui interrompido pela Dona a Zaia, a dona da padoca, que nervosa pediu que eu fizesse o pedido do cliente, imediatamente. Eu disse que não poderia compactuar com essa péssima dieta. Então, a Dona Zaia disse: "Ok! Então vá ver se na rua você encontra algo mais light!". Sai com a consciência limpa, o cliente, já bem obstruída, com certeza. E viva o papel do chapeiro! #UmBicoPorDia

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

56 #Cozinheiro

Embora eu goste muito de cozinhar e de aprender como faz isso ou aquilo, ainda me considero um estagiário nessa arte. Mãe, avô, tia, sogra, sogro, amigo, amiga...são muitas as referências que observei e observo para aprender mais. Estou mais para a cozinha experimental. Experimental no sentido de não seguir receita e ter pouco controle no que vai dar no prato. É comível ou imprestável? Gosto de arriscar e usar a sensibilidade para combinar e poder definir pela garfada. Bom, eu espero que tenha sido essa a razão que a Dona Leci, uma cozinheira de mão cheia, ou melhor, de mãos cheias, me convidou para testar minhas entradas vegetarianas em seu restaurante, o Miranda. A tradição de lá é a cozinha brasileira. Coisa fina. Caseira, né! Eu confesso que estava nervoso, pois além de não saber como a freguesia iria receber minhas entradas, também tinha dúvidas sobre o meu cardápio. Respirei fundo e decidi começar a fazer um por semana, assim teria como ir ajustando um a um. Escolhi começar pela "bruschetta de ricota, limão siciliano e cebolinha". Entrada definida, vamos então aos ingredientes:
1 xícara (chá) de ricota fresca esmigalhada com o garfo
1 colher (sopa) de casca de limão ralada
4 colheres (sopa) de azeite extravirgem
1 baguete pequena de pão italiano ou de pão francês cortada em fatias diagonais de 1,5 cm de espessura
6 colheres (sopa) de cebolinha picada
Sal e pimenta-do-reino moída na hora a gosto

Juntei tudo e fui fazendo. Com mais segurança, foi relaxando. Eu sõ não podia deixar o pão passar demais no forno. Ele tinha que ficar crocante e não carbonizado como na última vez. Deu tudo certo. A receita seria "tiro e queda", especialmente se estivesse harmonizando com uma boa cerveja ou um bom vinho branco ou rose. Os fregueses começavam a chegar, ou seja, chegava a hora da prova da entrada. E acreditem, eles não só gostaram, como pediram que eu repetisse em algumas mesas. Minha cara de felicidade era nítida. Tão nítida que um cliente que discutia com sua esposa, achou que eu estava rindo de sua cara. O cara ficou tão possesso que eu tive que pegar um pão italiano para me defender. Não adiantou muito. Enquanto eu fugia, ia pegando o que encontrava pela frente para jogar para trás. Numa das mesas, um garçom se preparava para cortar um melão. Adivinhe só o que aconteceu? Peguei o melão e rolei para trás. O problema foi eu ter atingido o marido da Dona Leci, e não o freguês irado. Eu pedi desculpas, mas não teve jeito, pois a Leci disse que eu deveria ficar servindo café e não jogando comida pelo restaurante. Como lá não tinha café, fui pra rua junto com o casal briguento. Já mais calmos, principalmente o marido, convidei os dois para tomar um café. Eles aceitaram e tudo terminou numa boa! E viva o papel do COZINHEIRO! #UmBicoPorDia

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

55 #Passadeiro

Quem disser que a única profissional gabaritada a passar roupas é passadeira, informe-se, pois o PASSADEIRO também nessa "parada", hein! Eu nunca tinha escutado, confesso, mas assim como o lavadeiro, nós homens também temos espaço no mercado de lavar e passar. Mas não são todos que dominam esse ofício. Eu, por exemplo, aprendi por necessidade. Estava sozinho e precisava passar uma camiseta de última hora, já que sair com a roupa toda amarrotada, não estava em meus planos. O Dona Bastiana (bico #54), da Lavanderia do Porto, além de lavar, também tinha atuação para passar roupa. E sabendo que eu precisava de um bico, me deu mais uma oportunidade de mostrar que eu mereço o emprego. Para não dar problema, ela me deixou responsável pelas camisetas. Tudo que saia da lavagem e secagem, passaria pelo meu ferro. Passei uma, duas, três......cinquenta camisetas (se não errei a conta). Eu já estava ficando quase com a mão cozida pelo calor do ferro. Parei para descansar e ver as atualizações em meu blog. Enquanto a mão semi cozida resfriava, eu segurava o celular com a outra. E ao me empolgar, encostei na tábua e o ferro que estava em pé no canto da tábua, caiu em cima da mão que . Era como se eu colocasse um filé cru, ou melhor, mal passado, em uma chapa quente. A única diferença, era que a chapa veio de cima. A tostada foi tanta, que por alguns segundos eu nem tive reação. Mas logo depois, deu um grito de "ai", que a seção parou. Eu não tinha tempo pra mais nada. Naquele momento era somente eu e minha mão. Enquanto me recuperava, senti um cheiro forte de fumaça. Olhei pra minha tábua e vi que o ferro ainda estava ligado e torrando a camiseta que eu estava passando. Na verdade o calor foi tanto que varou a camiseta e já estava consumindo a madeira da tábua. Não pensei duas vezes, peguei o ferro e coloquei na tábua ao meu lado. Eu nem vi direito, apenas o peguei e coloquei do lado. O problema é que ao lado tinha outro colégio. E nem preciso dizer que o ferro tostou a mão dele também, certo? Já éramos dois queimados, uma tábua marcada e uma camiseta varada. Dona Bastiana não quis mais nada. Achou melhor oferecer a saída, antes que eu tomasse ferro. E viva o papel do passadeiro. #UmBicoPorDia

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

54 #Lavadeiro

O homem que lava roupas, seja na mão, seja utilizando maquinário próprio para lavá-las, é o LAVADEIRO. Eu confesso que nunca tinha escutado esse nome, mas se existe a mulher que lava roupas, por quê não pode existir o homem que também as lava? Antigamente, direta ou indiretamente, todo mundo lavava roupas na mão. Hoje, embora ainda existam pessoas que as lave usando o muque, a maioria divide essa tarefa com a tecnologia. Na verdade nem é divisão, pois são as máquinas que lavam tudo. Sobra mesmo para nós, tirá-las da máquina e estendê-las no varal. Quando é claro, não há a participação da secadora. É tudo muito simples. E se é simples assim, pegar um bico em uma lavanderia, é mais prático ainda. Peguei minha bicicleta e lá fui eu tentar algo em uma lavanderia que fica aqui no bairro, a Lavanderia do Porto. A Dona Bastiana, a responsável pelo "pedaço", me explicou rapidamente o ofício e lá fui eu lavar a minha primeira trouxa de roupas. Coloquei tudo na máquina, adicionei o sabão e o amaciante, programei e apertei o botão para ligar. A água começou a jorrar, mas o problema é que ela não ficava retida no tambor e vazava por algum canto. Tirei toda a roupa da máquina e comecei a investigar, para ver se achava algo. Achei. Era um cano desconectado. Recoloquei as roupas e na hora de ligar, a água não jorrou mais. Aff! Tirei as roupas pela segunda vez e fui ver o que estava acontecendo. Como não encontrei nada, resolvi chamar a Dona Bastiana. Ela deu uma olhada rápida e disse que estava tudo certo. Mas pediu, antes de eu ligar, que desse um banho de água sanitária no tambor, pois ele estava começando a ficar encardido. Fiz o que ela me pediu com todo o cuidado, já que água sanitária mancha que é uma beleza. Enquanto deixei agindo, fui ver o que mais poderia fazer na lavandeira. Logo que me viu, a Dona Bastiana pediu que eu jogasse uma trouxa de roupas coloridas na máquina que estava ao lado da minha. Peguei a trouxa, joguei na máquina, adicionei o sabão e o amaciante e liguei. Eu estava feliz de conseguir ligar pelo menos uma máquina. E quando fui voltar pra minha, não a encontrei mais. E pra ajudar, as máquinas são todas iguais. "Mas pera aí! Será que eu coloquei as roupas colori...!". Putz! Joguei as roupas coloridas na máquina com água sanitária! rapidamente tirei tudo, mas não adiantou, o que era colorido, havia ficado manchado como aquelas camisetas de hippies, sabem? O cliente quase me deixou de molho e a Dona Bastiana coitada, quase teve um treco. Agradeci e achei melhor ir embora. E viva o papel do lavadeiro! #UmBicoPorDia

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

53 #Radialista

Eu tive uma fase em que era bem tímido. Quando a gozação virava para mim, eu me enrolava todo, ficava vermelho e acabava me irritando e não levando na esportiva. Mas o tempo foi passando, eu fiz teatro e comecei a me soltar. Acho que foi próprio do meu desenvolvimento mesmo. Enfim, hoje não só gosto de falar, como de imitar as pessoas. E quando pego alguém para imitar, é de "cabo a rabo", ou seja, imito o jeito dela andar, se comportar e é claro, de falar. Por conta dessa facilidade, passei a criar vozes e até começar a pensar em um dia, ser dublador. E foi exatamente por eu ter esse "Lado B", que meus amigos radialistas, Cesar Oliveira e Edu Thomaz, da Rádio Pirapora, resolveram me chamar para ser RADIALISTA substituto. A ideia dos dois, seria que eu substituísse um colega que havia entrado em licença paternidade (aquela que dá aos pais apenas cinco dias corridos para ficar com a mulher e o filho, que acabou de nascer. Aff!). Eu teria que me habituar com o protocolo de trabalho, microfone, botões, atender os ouvintes e tocar as músicas. Mas meus dois amigos, logo me prepararam para minha estreia. Eu confesso que estava um pouco nervoso com aquilo tudo. Aquele frio na barriga clássico, sabem? Tudo preparado. Eu já estava com fones e com o microfone ajustado. A música de introdução do programa começou. A deixa era que quando ela terminasse, eu deveria saudar os ouvintes e me apresentar. A música terminou e eu travei. O Oliveira e o Thomaz, que estavam do meu lado, faziam gestos de "vai", "fala", "estamos no ar". E cinco segundos depois, que para mim parecia uma eternidade, eu disse: "Alô, ouvintes da Rádio Pirapora! Aqui quem fala é o Luccas Longo....". A expressão de alívio dos dois era nítida. A coisa estava indo tão bem, que os dois até saíram para tomar um café. E eu estava gostando muito daquilo. Ai chegou o momento de atender os ouvintes. "Bom dia, com quem eu falo?". Era uma senhora querendo reclamar do marido. A galera já havia me avisado que esse tipo de conversa deveria ser cortada. E para mostrar o meu "jogo de cintura", decido alongar um pouco mais a conversa. "Mas qual seria a reclamação, minha senhora?". E ela disse: "Esse homem não está dando mais no couro!". E foi só ela dizer isso, para eu olhar para o vidro que separa o estúdio de gravação do restante da sala, e ver o produtor, o diretor e meus dois amigos fazendo um gesto apavorado de "CORTA!". Eu já ia mesmo encerrar a conversa, mas antes decidi fazer uma observação. "Mas minha senhora, nessas horas você não pode se desesperar. O seu marido deve ser um homem de bem, que trabalha muito, que faz o possível e o impossível para garantir o bem estar de sua família". "Ele deve só estar passando por um perío.. !". Ela nem esperou que eu terminasse e gritando no telefone, disse: "Homem de bem? Trabalha muito? Bem estar? O meu marido não sai do bar, vive se enroscando com as vizinhas, volta tarde todas as noites e quando chega o final de semana, dorme!". "E tem mais, viu!. "Se você o está protegendo, que vá pra p.......!". Mas como tem ouvinte mal educado, hein! Onde já se viu? O Oliveira e o Thomaz agradeceram a minha participação e ainda foram amigos ao sugerir que eu saísse da rádio, pelos fundos. Bem , achei melhor mesmo! E viva o papel do radialista! #UmBicoPorDia

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

52 #Confeiteiro

Eu gosto muito de cozinhar. Não sou daqueles que se prende muito a receitas. Quando é algo que nunca fiz, claro que procuro segui-la. Mas quando repito o prato, tento fazer diferente. Esse diferente nem sempre é o bom, ok? Rs Gosto de cozinhar empiricamente, ou seja, como estivesse em um laboratório. Talvez seja por isso que as vezes as coisas espirram, borbulham e quase estouram! Hehe O meu lado cozinha surgiu graças a minha mãe, um talento na arte de cozinhar. A gente vai observando ao longo dos anos e quando nota, já está fazendo algo comível e que mata a fome. Não tenho ainda uma especialidade. A não ser a de comer, claro! Mas vamos lá! Hoje estreei como CONFEITEIRO, acreditam nisso? Pois é. Eu até tenho um pé na cozinha, mas esse bico foi um passo largo até demais! Aprendi muito, mas condimentei além do ponto. Vi um anúncio que estavam precisando de confeiteiro ajudante na Confeitaria Doce Pecado. A dona foi chacrete (dançarina do saudoso, Chacrinha. Quem não sabe quem foi, clique aqui :)) e quando se aposentou do palco, resolveu rebolar na confeitaria. A casa já tem muitos anos e é sucesso na cidade. Todo mundo quer provar o bumbumcado, digo bombocado, desculpe, da Dona Ana. O meu trabalho foi ajudar a aumentar a produção dessa doce iguaria. Meu setor era o de separar os ingredientes e ficar de olho no forno. Farinha de trigo, leite, ovos, coco, queijo... Enquanto o confeiteiro responsável preparava a mistura, eu ajustava o forno e untava as formas. Tudo estava pronto. Só faltava colocar os futuros doces pecados no forno. O confeiteiro disse que iria fumar um pouco e me deixou de olho no forno. Se tivesse crescido e ficado corado, eu deveria tirá-los do forno e deixar que esfriassem. Eles cresceram, mas não ficavam corados. E agora? Decidi aumentar a temperatura para ver o que acontecia. Não acontecia nada. Como o confeiteiro não voltava, eu era o responsável. E se era eu, eu tinha que fazer alguma coisa. E fiz. Tirei tudo do forno e modelei um por um em formado de bumbum. A massa ainda estava mole, então por que não inovar o bombocado em bumbumcado? Quando o confeiteiro chefe voltou, ele ficou paralisado. Até aí eu achei que estava abafando, mas quando a Dona Ana viu, eu tive certeza de que não estava. A mulher me deu uma bundada que me desequilibrou e me fez cair de cara na sua bunda. Ou melhor, no bombocado. Eu expliquei a ela que a releitura seria um sucesso e que tentei ser fiel ao seu par de glúteos. E foi só dizer isso, para eu tomar uma torta de limão bem no meio da cara. A torta estava ótima, mas tomei um chute na bunda! E viva o papel do confeiteiro! #UmBicoPorDia

domingo, 25 de janeiro de 2015

51 #Músico

Foram dois os cursos em que eu peguei para fazer sério: violão e pintura. Embora eu já desenhasse e soubesse utilizar alguns materiais artísticos, o curso de pintura, feito com um professor "ninja", nesse quesito, foi essencial para o meu desenvolvimento como artista. Entretanto, o de violão, não foi nada similar. E olhe que em casa eu sempre tive uma boa referência, o meu pai. Mas por mais que eu me esforçasse, não fui muito longe. Eu tenho ouvidos, mas não tenho a habilidade de tirar música só por escutar. Claro que sai alguma coisa, mas se eu não tiver a letra cifrada e não estudar por uns três ou quatro dias, não consigo apresentar nada que se preze. Daí pensei o seguinte: se tem tanta gente que toca e canta ruim, pelos bares e restaurantes e ainda ganha para fazer isso, por que não me juntar a eles? Eu tive muita sorte, do Boteco do João estar precisando de um MÚSICO para animar as noites de domingo. Como não sugeriram nenhum repertório, eu fui logo montando o meu. Nele tinha, "Chalana", "Cabecinha no Ombro", "A Praça" e "Índia". Mas por que essas músicas? Pois são as únicas que sei tocar "bem". A estratégia era tocá-las bem devagarinho para assim preencher a noite toda. Cheguei cedo no boteco. Vi onde eu iria ficar, afinei o violão e conheci os garçons. Estava tudo certo para começar. Os clientes começaram a chegar e em pouco tempo o salão estava cheio. Eu já deveria ter começado a tocar, mas sabe como são as coisas, não é mesmo? Já fazia muito tempo que eu não tocava nada. Então, eu precisava de um aquecimento. Os clientes já estavam fazendo aquela cara de desaprovação, quando o dono do boteco, o João, disse para eu começar logo, pois tinha cliente querendo ir embora. Sendo assim, comecei a tocar . Eu já estava tão empolgado, que dedilhava e cantava com os olhos fechados. Quando terminei, abri lentamente os olhos e vi que as pessoas estavam me olhando com uma cara de indigestão. Não pensei duas vezes, fui para a próxima, depois para outra....e quando chegou a hora do intervalo, o dono veio me perguntar se estava tudo bem comigo. Eu disse que sim e perguntei a razão. Ele comentou que os clientes estavam achando a apresentação péssima. Na volta do intervalo, toquei duas seguidas e ao terminar, notei que as pessoas estavam indo embora. Não deu outra, peguei o microfone e disse: "Ei pessoal! Se vocês ficarem, eu tento tocar "Eu Quero Ver o Oco!". Não adiantou. "Mas e Robocop Gay?", eu disse. Preciso falar que não adiantou nada? Mas foi bom para me mostrar qual é o caminho. E viva o papel do músico! #UmBicoPorDia             

sábado, 24 de janeiro de 2015

50 #Técnico

Ser técnico é ter o conhecimento prático de uma arte ou de uma ciência. Muita gente marginaliza os coitados dos técnicos, mas quando a coisa aperta, alguém chama um PhD para trocar o cano, tomada, pintar a casa ou arrumar a televisão? Claro que não. Chamam mesmo é o técnico. E se o chamam é porque tem trabalho de sobra, não? E se tem trabalho, tem bico sobrando por aí. E se tem bico, lá estarei eu. De todos os ramos, achei que seria melhor focar no TÉCNICO DE TV. Eu nem tenho conhecimento nessa área, apenas sei, assim como todos, operar o antigo "tubo televisivo" como usuário mesmo. E tem outra razão forte para ir atrás das tvs, o desemprego. Eu não poderia deixar passar uma oportunidade dessas. Claro que hoje em dia, os televisores estão cada vez mais modernos. É como se tivessem um "técnicozinho" dentro deles, pois basta acionar os botões do controle remoto, para que tenhamos tudo na nossa mão. Sendo assim, a minha estratégia era aproveitar essa moda retrô de restaurar coisas antigas, mesas, rádios, roupas, carros, bicicletas...e os televisores de tubo, por exemplo, para conseguir um trabalho. O Seu Tite, é  um técnico de tv e de assuntos gerais, que tem uma venda aqui perto de casa. Ele gostou da ideia,  aceitou o meu bico, mas não deu muito "o braço a torcer". Segundo ele eu não teria muito serviço com televisores antigos. Bem, mas foi só eu anunciar os serviços na redes sociais, que logo pela manhã, recebemos três televisores antigos. O Seu Tite ficou surpreso e logo foi mudando de opinião. O serviço não era nada muito complicado. Um televisor estava sem o botão da sintonia, o outro era para trocar a tomada e o terceiro e último, estava com a antena quebrada. Bom, depois de consertamos todos eles, chegava a hora de ligá-los para ver se estava tudo em ordem. O Seu Tite disse para eu ligar os três em uma tomada de barra e depois ligá-la na tomada com a voltagem certa. Enquanto o Seu Tite atendia um cliente, eu fiquei o responsável pelo teste nos televisores. Encontrei duas tomadas, uma era 110 volts e a outra, 220 volts. Pensei comigo: "se eu estou testando três aparelhos, deve ser uma voltagem maior, ou seja, 220 volts, claro!". E foi ligar e escutar um "BOOM" e ver uma fumaça escura saindo dos três aparelhos. Putz! Era como acabar de fundir o motor não de um, mas de três carros antigos e valiosíssimos. Os clientes queriam me matar e o Seu Tite então, nem se fala. Pedi mil desculpas, mas o canal acabou fechou sério para mim! E viva o papel do técnico de tv! #UmBicoPorDia

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

49 #Digitador

A adolescência é uma fase de muitas transformações e que passamos a nos interessar, por exemplo, por diversos cursos. Karatê, natação, violão, teclado, judô, pintura, ballet... No meu caso, fiz dois cursos em períodos distintos, o de violão e pintura. Mas alguns de meus amigos optaram por fazer um curso que não era muito comum, a datilografia, ou seja, a escrita que era feita nas antigas máquinas datilográficas, que também são conhecidas como máquinas de escrever. Ah! Já existia o computador nessa época, ok? Não sou tão velho assim! É claro que eu sabia da importância da datilografia e da utilidade que ela nos traz, especialmente para fazer aqueles trabalhos de História intermináveis. Se desse sorte de cair no meu grupo, alguém que fosse "ninja" nos teclados, iriamos economizar um bom tempo para fazer nosso trabalho. Ufa! Eu não fiz o curso, mas fui me adaptando com as teclas. Posso até demorar muito para digitar, mas eu digito. Agora o que não podia imaginar, é que um dia alguém fosse me convidar para ser DIGITADOR. Mas foi isso mesmo que aconteceu. Fui convidado para ser digitador de uma empresa de seguros de vida, a "Vem Kumigo". O trabalho estava bem acumulado. Sobre a minha mesa repousavam algumas pilhas bem densas de contratos e relatórios feitos a mão, para serem digitados. Se me dessem tempo e fossem pacientes, eu poderia fazer tudo aquilo numa boa. Porém, era um trabalho para ser resolvido até o dia seguinte e sem falta! Palavras do chefe da empresa, um "japa", o Sr. Alberto Syguro. Ele é daqueles japoneses que não se cansam e que querem ver o trabalho feito em tempo recorde. Até ai, tudo bem, mas as vezes temos que parar para dar uma volta, tomar uma água ou um café, trocar uma ideia com o colega do lado, enfim, descansar. Mas isso era inadmissível por lá. Para vocês terem uma ideia, a cada 20 minutos, lá vinha o Sr, Alberto perguntar se ainda faltava muito para terminar. Depois de várias perguntas, eu não aguentei e respondi a ele, que se eu não comesse, não tomasse banho e não dormisse, poderia terminar em mais ou menos, 2 dias. Eu teria que virar um zumbi, claro! Era muita pressão em cima de mim. E trabalhar sob pressão é uma ameaça para a concentração, que vai ficando cada vez mais difícil e favorável aos erros. Mas eu estava dando o meu máximo naquilo. Bom, eu teria mais 20 minutos de tranquilidade até ele voltar a fazer mais uma vez, a sua perguntinha clássica. Mas em 5 minutos ele voltou. E dessa vez não era para perguntar nada, mas exigir que eu parasse de fazer tudo aquilo e digitasse a renovação do contrato do seu sogro, o Sr. Fujiro Nakombi. A galera que estava do meu lado, logo me alertou que o Sr. Alberto virava um "cachorrinho" perto do sogro. Para os funcionários, era a simpatia em pessoa. E como normalmente ele não agia assim, isso causava estranheza em todos, já que estavam acostumados com um chefe que mais parecia um samurai que quer cortar a cabeça de todos. Me disseram ainda, que quando o sogro pedia qualquer coisa, era comum o Sr. Alberto dizer a ele, que não se preocupasse, pois ele mesmo se responsabilizaria por fazer seu pedido. E é claro que não era ele quem fazia, né! Então, para esse caso, não iria ser diferente. O cara me esfolava psicologicamente e ainda iria ganhar o mérito do meu serviço? Olha, eu juro que não foi proposital, mas diante do cansaço, cometi alguns erros de digitação. Depois que entreguei o contrato ao Sr. Alberto, ele foi logo entregar ao sogro, que o aguardava em sua sala. Já tinha dado até a minha hora, e enquanto pegava as minhas coisas para ir embora, tomei um susto enorme. Em japonês, o sogro do Sr. Alberto gritava tanto com ele, que mais parecia uma condenação de morte. Dez minutos depois, escuto a porta bater forte. E de repente vejo o Sr. Alberto vir em minha direção com "sangue nos olhos". Ele bufava e não dizia nada. Apenas me entregou o contrato que eu digitei. Peguei o documento e entendi que era para eu reler. E lá dizia: "Fujiro Nakombi é do sexo feminino e casado com o Sr. Alberto Syguro...". Ops! Feminino e casado com o sogro? E não parou por aí: "...o segurado afirma que seus bens deverão ser compartilhados com seu esposo, o Sr. Alberto Syguro...". Ops! Seu esposo? Eu nem sabia o que responder, apenas disse que foi o cansaço e a toda aquela pressão pra trabalhar. Ele nem quis saber. Disse para eu sair de lá antes que ele me transformasse em sushis. Eu em sushis? Tô fora. E viva o papel do digitador! #UmBicoPorDia

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

48 #Pipoqueiro

É claro que eu já tive muitas pipocadas, ou seja, meus momentos de medo. Entretanto, não sou daquelas pessoas que desistem de fazer algo porque estão com medo das consequências. Apesar que depende muito de quais são essas consequências, é claro. Quem me conhece sabe que sou um cara pacífico. Para me deixar muito nervoso, a temperatura tem que subir demais. Assim como o grão de milho de pipoca, que estoura na panela que está no fogo. Poucas vezes eu estourei. Mas eu não estou aqui para uma sessão terapia, mas para contar a vocês como foi o meu bico de hoje. E ele tem tudo a ver com o pipocar, já que graças ao grão de milho, existe a pipoca e o clássico, PIPOQUEIRO. Queimada ou não, todo mundo já fez pipoca em casa. Sendo assim, esse seria um bico tranquilo de se fazer. Colocar o óleo, esperar esquentar, jogar o milho e mexer para não queimar, não é nenhum "bicho de sete cabeças", certo?Errado, pois para queimar, basta estar bem desatento. Eu estava voltando pra casa pela Avenida Paulista, a via mais famosa de São Paulo, quando encontrei o Seu Firmino, o pipoqueiro com atuação mais antiga do pedaço. Já fazia tempo que eu queria comer uma pipoca doce, então logo que o vi, parei e pedi uma. Enquanto comia, vi um cartaz fixado no seu carrinho, que dizia: "Precisa-se de pipoqueiro". Não pensei duas vezes, o chamei de lado e me ofereci para o cargo. Ele perguntou se eu já tinha trabalhado com pipoca. Eu disse que embora só tenha a a experiência de ter  comido, sempre tive curiosidade para saber como se faz a pipoca doce. Pela curiosidade, por eu ser um cliente antigo e por ele precisar sair para resolver uns problemas, ele decidiu me dar esse bico. Depois de explicar o "beabá" da pipoca, deixou o carrinho comigo e foi resolver seus pepinos. Eu estava bem entusiasmado e mantendo a receita a risca. Ai a pipoca acabou. Eu precisava fazer mais. Peguei os ingredientes e comecei a montar a nova safra, simples. De repente um pipoca estoura como se desse sinal para as outras fazerem o mesmo. Parecia um tiroteiro. Principalmente pelo fato da panela estar destapada. Destampada? Putz! Esqueci de colocar a tampa! E naquela hora nem tinha o que fazer, pois chegar perto de uma panela em erupção é tomar pipocada na cara. Era um tal de pipoca alvejando quem passava pela calçada, que é só vendo. Eu nem tinha o que fazer, a não ser ir pedindo desculpas conforme cada pipoca se projetava da panela. O Seu Firmino parece até que pressentiu, pois logo estava de volta. Disse para mim que se eu fosse um milho, ele teria o prazer de me torrar. Uia. Viva o papel do pipoqueiro! #UmBicoPorDia    

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

47 #Vidraceiro

Ser transparente como o vidro. Parece até um ensinamento vindo do Sr. Miyagi (quem não conhece, dê um Google), mas não é, Daniel San! É ser franco e aberto. Eu prefiro até achar que é uma qualidade de muita gente, mas por acabarmos lembrando mais das pessoas que sao o contrário disso, chegamos a conclusão que as transparentes são mesmo raras. Mas agora chega desse papo de auto ajuda, pois tenho mais um bico pra confidenciar, o de VIDRACEIRO. Esse importante profissional pode até não ser transparente, mas sua matéria prima depende dessa qualidade. Sempre que uma janela quebrava em casa, por bola, tênis, bolinha de gude, ou qualquer objeto de uma brincadeira ou briga entre irmãos, que atingia uma das coitadas, recorríamos ao Seu Paulo, um vidraceiro que tem sua venda aqui na rua de casa. Graças a ele, peguei um bico de auxiliar de vidraceiro. Minha função era de auxiliar, claro, mas também de fazer a entrega e a instalação.Depois de um curso rápido com o Seu Paulo, onde aprendi a manipular a massa de vidraceiro e até a cortar vidros, fomos para a minha primeira entrega. Deveríamos instalar uma janela de correr na área de serviço de um apartamento da Vila Mariana. Chegando lá, vi que o cliente tinha uma hábito em comum comigo, o de observar aves. Aliás, a casa dele inteira tinham esses incríveis animais emplumados como base da decoração. Logo na entrada, um quadro com duas araras-canindé pintadas e acasalando, repousava acima do sofá da sala. Na cozinha, os azulejos estampavam sabiás, pica-paus e corujas. O gosto dele tanto que nos recebeu com um boné que imitava a cabeça de um grou-coroado. Eu gosto muito das aves, mas até agora não me passou pela cabeça, vestir um pijama de mocho-dos-banhados, passar a chamar os outros com vocalizações de aves ou ter a cama em formato de ninho. Pode não parecer, mas saibam que minhas faculdades mentais ainda estão em pé. Mas vamos voltar para a instalação da tal janela. O Sr. Cuco (me permitam chamar o cliente assim, ok?) não desgrudou de nós um minuto. Ele precisava ter certeza de que nós não iriamos derrubar o comedouro de aves, que ele fixou do lado de fora da janela. Segundo ele, os sabiás-laranjeira, sanhaçus-cinzentos e dos coqueiros, cambacicas e os periquitos-ricos, dependiam daquela "mesa" todo santo dia. E eu tenho que dar crédito ao Sr. Cuco, pois ser ave nos dias de hoje, não é nada fácil. Eu estava posicionando a janela no trilho, quando de repente, nosso amigo grita: "falcão-peregrino"! Automaticamente eu larguei a janela e disse espantado a ele, "onde?". E foi dizer isso para escutar a janela se espatifar sobre o jardim do prédio. Putz! Era vidro pra todo lado. Com o barulho do impacto, só se viam cabecinhas pra fora das janelas. Gente xereta, viu! Aff! O Seu Paulo virou uma arara. O Sr. Cuco estava mais interessado em registrar o falcão que veio do Hemisfério Norte, do que a janela espatifada. Eu nem esperei a ficha dele cair para ver qual seria a ave que ele iria se transformar. Será que viraria um parente próximo? Um tiranossauro, quem sabe? Enfim, já chega o Seu Paulo ter virado uma arara. Fui embora de lá voando! E viva o papel do vidraceiro! #UmBicoPorDia

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

46 #Livreiro

Eu já falei pra vocês (bico #40), as bancas sempre foram lugares de passagem obrigatória pra mim. Mas quando o destino são os sebos e as livrarias, aí a coisa muda de dimensão. Eu juro que poderia ficar dias e dias nesses lugares. É uma relação que começou através de meu avô e do meu pai, duas pessoas que foram essencias para essa aproximação sensorial, sentimental e de conhecimento com os livros. E poder garimpar, manusear, sentir seu cheiro e lê-los, é sempre muito bom. Tudo bem que eu tenho uma pilha de livros ainda para ler, mas enquanto isso não acontece, eles estão bem seguros aqui em casa. E já que eu tenho essa intimidade com os livros, por quê não ir atrás de um bico com eles? E foi exatamente o que eu fiz. A Traça Cultural, uma livraria famosa por proporcionar até as traças, leitura agradável. A razão disso tudo é que eles tem uma sala fechada por vidros, onde os livros que estão muito avariados são literalmente devorados por esses invertebrados estudiosos. E os clientes podem acompanhar essa leitura demolidora, enquanto passeiam pela livraria. Bom, a minha função era dupla. Seria LIVREIRO e ao mesmo tempo, cuidaria da saúde das traças. Para cuidar delas eu deveria ficar de olho na temperatura, na umidade e na escolha dos livros que seriam devorados no mês. Logo que cheguei para iniciar o bico, verifiquei as condições meteorológicas e bibliográficas da sala. Como estava tudo certo, passei a minha segunda função, ou seja, a de vender os livros. Entre consultas e vendas, eu corria para a seção de "Pais e filhos" e tentava absorver o máximo de informações que encontrava por lá. Quando a gente tem o primeiro filho, surgem milhares de dúvidas. As mães até tiram de letra, mas para nós pais que passamos a viver entre diferentes bicos (de chupetas e mamadeiras), fraldas, roupinhas e choros, é sempre aquele estado de não saber o que fazer e nem para onde ir. Com o tempo vamos ficando mais seguros ao ponto de até brincar com coisas que nos tiravam o sono. E não é que encontro "O Confissões de um Pai Despreparado" (Panda Books) , um livro bem humorado e que fala exatamente dessa minha atual fase. Eu não queria mais parar de ler. Os clientes iam chegando e eu dizia para procurarem outro atentendente, pois como sou pai, eu tinha que terminar aquele livro antes de fazer qualquer outra coisa. Eu até via que os clientes estavam falando algo, mas eu estava tão compenetrado na leitura que não escutava absolutamente nada. Foi como tirar o som da televisão, sabe? Mas dai o som voltou. E era o som do dono da livraria, o Seu Jorge Grilo, que esbravejava para que eu desse o fora da livraria. Eu até tentei convencê-lo a deixar que eu terminasse de ler o livro, mas não teve jeito. O bico pode não ter dado certo, mas pelo menos sai de lá menos despreparado. E viva o papel do livreiro! #UmBicoPorDia       

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

45 #Barman

Durante um período de minha adolescência (que não faz muito tempo! Rs), eu passei a engordar a minha mesada com uns bicos (fui precoce na área) que eu fazia no bar da minha tia. Não era sempre, mas quando surgia, era aquela briga em casa para ver quem iria. Só um poderia ir. A disputa era entre eu e meus irmãos. Nos revezávamos, mas para ganhar uns trocados ajudando a tia, todos nós queríamos ir sempre. Muitas vezes a gente nem ganhava nada, mas íamos do mesmo jeito. É aquela coisa de poder descobrir a noite e voltar de madrugada, sabem? E para adolescente então, um prato cheio, ou melhor, drink cheio. Nosso trabalho era de BARMAN, mas acabávamos mesmo é pegando cerveja, água, refrigerante e fazendo suco. Quando pediam coquetéis, boa parte das vezes fazíamos caipirinhas e caipiroscas. Embora nossa função fosse de balcão, nos sentíamos os barmans do pedaço. Coquetel de frutas, alexander e blood mary também eram requisitados, mas muitas vezes isso ficava para os mais experientes. O tempo passou, mas eu ainda me lembro, ou acho que lembro, de como fazer esses drinks. E por acreditar nisso, que resolvi testar o bico em algum bar. O único a abrir as portas para mim foi o Seu Carlos, do Bar do Cachorro Trompeteiro. Barzinho charmoso que toca um bom jazz e tem bons coquetéis. Imaginem a responsa de trabalhar em lugar desse? Bom, eu já estava reabilitando a agilidade na caipirinha. Era uma atrás da outra. Os clientes estavam adorando e se embebedando também, claro. De repente o açúcar acaba. Perguntei pra galera onde tinha mais e disseram que era no pote verde, embaixo da pia. Achei o pote e continuei mandando ver junto com o chope, que eu também estava tirando. Eu não estava acreditando. Mas o encanto quebrou, quando o pessoal de umas três mesas vieram se queixar da caipirinha. Eu perguntei a razão e um deles disse para eu experimentar. E foi tocar a boca para perceber o erro. Sal. No pote verde tinha sal e não açúcar. E para complicar, eram dois potes verdes. Um escuro e outro claro. O Seu Carlos ficou nervoso, mas entendeu que qualquer novato iria se confundir. Disse para eu ficar, mas tomar cuidado. Começaram a pedir o bloody mary, aquele coquetel que a base é o suco de tomate, sabem? Então, foi um atrás do outro até o suco acabar e eu precisar ir atrás de mais. Jarra branca na geladeira, disseram. Peguei a jarra e fui fazendo até eu escutar um grito no salão do bar. Era um homem com uma fala enrolada. E adivinhem só o porque? A boca do coitado estava pegando fogo. Estranho! Eu nem tinha coloquei muita pimenta, disse a um dos garçons. Quer dizer, eu só coloquei pimenta. Tinham duas jarras brancas na geladeira. A da frente era molho de pimenta concentrado e a segunda, a de suco de tomate. Bom, depois de salgar e apimentar, o bico azedou e o Seu Carlos amargou. E viva o papel do barman! #UmBicoPorDia

domingo, 18 de janeiro de 2015

44 #Chopeiro

Você quer com ou sem colarinho? Essa é uma pergunta corriqueira que o CHOPEIRO faz ao cliente. Muita gente acha que o colarinho é desprezível, mas não é não. Saiba que bico também é cultura. Se não fosse o Sr Fritz, do Bar do Circo, eu não saberia que a espuma mantém a temperatura e as qualidades da cerveja. Ele funciona como uma tampa. Sendo assim, tem gente que pede com tampa, sem tampa ou com uma tampinha. O Sr Fritz é um mestre cervejeiro aqui do bairro que decidiu começar a produzir sua cerveja e ao mesmo tempo homenagear o circo, uma escola para ele, em um bar. Hoje ele está aposentado do picadeiro, mas quando era novo, dizem que ninguém segurava esse alemão no tecido acrobático. Embora ele esteja fora do circo, hoje a estrela é a cerveja que ele produz. E como o negócio esta indo bem, a sua ideia era expandir o bar para conseguir acomodar mais gente. E se vai expandir e ter mais clientes, ele precisava aumentar o número de funcionários. E foi aí que eu entrei. O alemão disse que para começo, eu deveria ficar como chopeiro, ou seja, tirador de chope. Depois de um curso rápido, eu já estava tirando chope com vários níveis de colarinho. Estava na maior curtição. Aliás, é provável que ainda estivesse, se um problema não tivesse acontecido. Como o barril de chope terminou, alguém teria que trocar. Mas com o bar cheio e todo mundo ocupado, teria que ser eu esse alguém. Olhei as conexões direito e mandei ver. O problema foi quando eu fui conectar a mangueira no barril cheio. Acabei conectando-a na diagonal e uma rajada de chope espirrou, lavando todo mundo do bar. Depois do susto, tinha até gente enchendo o copo diretamente no jato, já que ele não parava de sair. O Sr Fritz de rosado foi para vermelho e de vermelho foi para roxo. Esbravejou em alemão e eu não entendi nada. Na verdade só entendi uma coisa. Ou melhor, quase duas. A primeira foi sobre o colarinho e a segunda eu não sei direito, porque estava em alemão. E viva o papel do chopeiro! #UmBicoPorDia

sábado, 17 de janeiro de 2015

43 #Feirante

Lima, pêra, seleta, bahia...essas são as laranjas tradicionais que acompanham nossa vida. Iniciamos com a laranja-lima, pêra e por aí vamos indo de suco em suco. Eu estudei a Botânica (a ciência das plantas) e sei identificar bem um fruto. Então trabalhar com eles, não seria problema nenhum. Graças ao Sr. Nicola, um italiano de Araraquara (SP), a capital mundial da laranja, peguei o bico de FEIRANTE. Como ele teria que viajar para visitar a família, me deixou responsável (olhem só) por sua banca, junto com seu filho. Ele nem me conhecia direito, e eu já estava dividindo a responsabilidade por sua banca. Enfim, foi com a minha cara, claro! O serviço não tinha muito mistério. Eu deveria apenas separar as variedades, organizar a bancada e vender. O quilo baixou e as vendas estavam indo muito bem. Mas se não fosse por um descuido meu, no momento da montagem da banca, a bancada não teria virado e as laranjas não seriam libertadas por rua abaixo. Pareciam aqueles provas com barreiras. As pessoas subindo a rua e as laranjas descendo e atropelando que estivesse no caminho. Um idoso tomou uma laranja-bahia na cabeça, um casal foi atingido por várias limas, um menino tropeçou em uma bahia e caiu sentado em duas pêras. Era um tal de laranja quicando pela rua, que vocês não fazem idéia! Rs (desculpem, mas na hora foi um pouco engraçado) O filho do Sr. Nicola, o Nicolinha, que estava ali junto comigo, me chamou de bagaço e disse para que eu tentar ganhar a vida em outro lugar, porque com laranjas o prejuízo já estava alto. Não deu nem tempo de eu praticar o meu slogan de feira, pô! E viva o papel do feirante! #UmBicoPorDia

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

42 #Servente

Um bom pedreiro é aquele que faz de tudo, mas sem deixar desmerecer o serviço, principalmente quando o assunto é o acabamento. Todo mundo tem histórias para contar dele. Sejam elas boas ou ruins, é ele o responsável que deixará, ou pelo menos irá tentar deixar, o que você pediu no prumo. Eu sempre tive sorte, pois os pedreiros que passaram por minha casa, sempre foram gente boa. Até mesmo quando não faziam as coisas direito. E foi através de um deles, o Seu João, que consegui um bico. Como eu não tinha nenhuma habilitação especializada no assunto, fui ser SERVENTE DE PEDREIRO, ou seja, o ajudante. Eu até falei para o Seu João que por ser artista gráfico e gostar de fazer trabalhos manuais, isso poderia me ajudar em alguma tarefa. Ele não ficou muito convencido, mas também não disse nada e foi logo me colocando para rebocar uma parede. Bom, vai ser como revestir um bolo, pensei. A massa já estava pronta, bastava então, molhar os tijolos, para uma melhor aderência, e mandar ver com a espátula. Fiz a base da parede e fui subindo. Quando eu estava na metade, parei para descansar um pouco, pois com esse calor todo não dá para arriscar. Eu estava na sombra do telhando quando escutei um canto grave, vindo logo acima de mim. Não era possível ver quem era o tenor emplumado, mas ele não parou de cantar. Como sou um observador atento, eu tinha que descobrir quem era. Olhei para dentro da obra e vi uma escada. Peguei a dita cuja e encostei na parede ao lado de onde eu chapiscava. Eu não ia correr o risco de estragar a minha parede, encostando a escada nela. Posicionei a escada e subi um, dois e quando ia acessar o terceiro degrau, metade do muro caiu para o outro lado. Imediatamente a escada virou uma gangorra e eu fui jogado de cabeça sobre os tijolos do muro. Olhei para trás, e vi o Seu João com aquela cara de total desaprovação. Eu disse que ele não se preocupasse, pois eu iria juntar todos os tijolos e colar um por um. E ele disse: "colar um por um"?. Respondi: "mas eu posso colar de dois em dois?". O Seu João riu e disse que não daria muito certo um artista trabalhar na obra. Para ele, seria mais interessante que eu envolvesse na parte de decoração, mas, por favor, não na construção. Talvez ele esteja mesmo certo. Enfim, viva o papel do servente de pedreiro! #UmBicoPorDia    
  

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

41 #Massagista

Pessoa habilitada para a aplicação de massagem é o MASSAGISTA. A Anatomia sempre foi uma das minhas disciplinas prediletas do curso de Biologia. Eu gostava e ia muito bem nas provas, especialmente nas práticas, O estudo envolvia também a neuroanatomia (a que estuda os órgãos do sistema nervoso). Tudo bem que Anatomia e massagem são coisas diferentes, mas sabendo um pouco de músculos e nervos, já ajudaria muito. Entretanto, eu teria que antes fazer um curso rápido para saber um pouco mais a respeito. O bico era para ser auxiliar do Mestre Yoda, proprietário do Instituto Zen Nada. Yoda é uma figura importante da massoterapia (a terapia que trata os outros com massagens) no Brasil. Ele é tão importante, que para muitos é tratado como um ser especial. Sua técnica consiste em não somente massagear o corpo do paciente, mas tratá-lo também com o uso de um laser. Ninguém entende muito o que ele fala, mas quando começa a massagear, é de causar até milagres. Bem, depois do mestre me explicar o que eu deveria fazer, pediu que eu fosse preparando uma paciente, pois ela iria se preparar para o atendimento. A paciente estava com uma forte torcicolo e eu deveria energizar o pescoço dela para que quando o mestre chegasse, a força tivesse uma ação melhor. Então comecei a massagear cuidadosamente cada lado do pescoço e a mulher vira do nada e começa a me olhar. Olhei surpreso para ela e disse: "Milagre". Eu te curei!?". Ela disse para eu relaxar, já que ela estava louca para ser massageada por mim. Ops! Eu disse a ela que o Instituto não oferecia esse tipo de massagem, mas se ainda tivesse com torcicolo, eu poderia resolver. Ela insistiu e disse que pagaria o que for preciso para ser "massageada com muita força". Eu disse a ela que eu poderia tentar tirar só a torcicolo, já que sou casado e tenho até filhinho pequeno. Não contente, ela começou a esbravejar e agitar o pescoço. De repente escuto um "cleq". O pescoço dela tinha travado. Procurei o Mestre Yoda, mas não o encontrei. Sendo assim, só haveria um jeito, eu mesmo tentar ajudar. Identifiquei os ponto de tensão e passei a massageá-los com força. O problema é que a força foi tão grande que desalinhou um nervo  das costas da tarada. Conclusão, pescoço e costas travados. A essa altura do campeonato, ela nem estava mais esbanjando sensualidade, mas ira. O Mestre Yoda, mesmo sendo zen, disse que eu não deveria se preocupar, pois a força sempre estaria comigo.Na rua, claro! E viva o papel do massagista! #UmBicoPorDia