terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

59 #Alfaiate

Uma coisa é cortarem você de um passeio, outra coisa é cortarem você do seu emprego. Ninguém espera ser demitido (ou espera ?). No meu caso, sempre chegava ao trabalho para fazer o meu melhor. Nunca havia sido demitido, mas em um belo dia, você não espera e acontece. Não podemos controlar as coisas e nem as pessoas. Cada um pensa de um jeito. E tem mais, muitas vezes a razão de uma demissão é tão subjetiva que procurar entendê-la é pura perda de tempo. O melhor mesmo é poder viver livre e longe daquilo que não representa você. É buscar o tão sonhado bem estar, sabem? Bom, chega de filosofar! Como estávamos falando de "corte", ontem mesmo apareceu um bico de ALFAIATE, acreditam? Pois é, eu resisti, pois trabalhar com tecidos não é coisa tão simples assim! A oportunidade era para ajudar a Dona Alzira, uma costureira já de "certa idade", aqui da rua, que não estava mais conseguindo dar conta do recado. O serviço nem era tanto, mas a idade já estava pesando para ela. Além de costureira ela também atuava na alfaiataria. Além dos costumeiros vestidos, ela também criava blazers e ternos impecáveis. Eu fui bem sincero. Disse que não era do ramo, mas poderia aprender esse ofício. Lembro até que ganhei o concurso do "Mais rápido prendedor de botões" da minha escola. Rs! Agora, cortar tecido e fazer uma roupa, era algo bem distante da minha "zona de conforto". A Dona Alzira nem se preocupou, e disse que por ela, o bico era meu. Eu não acreditei naquilo, mas depois que ela me deu um curso instantâneo, eu não via a hora passar a tesoura! Meu primeiro pedido: cortar o tecido para fazer um terno branco. Peguei os moldes e comecei a cortar a calça, o paletó e o colete. Com tudo cortado, faltava agora é costurar as partes, oficio que ficaria para a Dona Alzira. Organizei as peças na mesa e já fui pegando mais tecidos para cortar. Agora seria para um paletó verde. Peguei o padrão de cor, encontrei o tecido correto, joguei ele por cima da mesa e comecei a cortar. Enquanto eu cortava o tecido, o cliente do terno branco chegou para ver como andava o trabalho. Entusiasmado, eu logo puxei os cortes para mostrar a ele. E foi só levantá-los que notei que o corte da calça estava estranha. Faltava uma perna. Ops! E a manga direita do paletó, estava curta em relação a esquerda. Ops! Eu não estava acreditando. O cliente ficou mudo e a Dona Alzira, pasma! Como é que eu fui capaz de cortar um tecido em cima de outro? A tesoura do verde acabou com o serviço do branco. Eita! Pedi desculpas, mas a Dona Alzira ficou tão nervosa com aquilo tudo, que me deu um baita de um corte. Um corte no bico. Fui pra rua mais uma vez, mas viva o papel de alfaiate! #UmBicoPorDia

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