sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

56 #Cozinheiro

Embora eu goste muito de cozinhar e de aprender como faz isso ou aquilo, ainda me considero um estagiário nessa arte. Mãe, avô, tia, sogra, sogro, amigo, amiga...são muitas as referências que observei e observo para aprender mais. Estou mais para a cozinha experimental. Experimental no sentido de não seguir receita e ter pouco controle no que vai dar no prato. É comível ou imprestável? Gosto de arriscar e usar a sensibilidade para combinar e poder definir pela garfada. Bom, eu espero que tenha sido essa a razão que a Dona Leci, uma cozinheira de mão cheia, ou melhor, de mãos cheias, me convidou para testar minhas entradas vegetarianas em seu restaurante, o Miranda. A tradição de lá é a cozinha brasileira. Coisa fina. Caseira, né! Eu confesso que estava nervoso, pois além de não saber como a freguesia iria receber minhas entradas, também tinha dúvidas sobre o meu cardápio. Respirei fundo e decidi começar a fazer um por semana, assim teria como ir ajustando um a um. Escolhi começar pela "bruschetta de ricota, limão siciliano e cebolinha". Entrada definida, vamos então aos ingredientes:
1 xícara (chá) de ricota fresca esmigalhada com o garfo
1 colher (sopa) de casca de limão ralada
4 colheres (sopa) de azeite extravirgem
1 baguete pequena de pão italiano ou de pão francês cortada em fatias diagonais de 1,5 cm de espessura
6 colheres (sopa) de cebolinha picada
Sal e pimenta-do-reino moída na hora a gosto

Juntei tudo e fui fazendo. Com mais segurança, foi relaxando. Eu sõ não podia deixar o pão passar demais no forno. Ele tinha que ficar crocante e não carbonizado como na última vez. Deu tudo certo. A receita seria "tiro e queda", especialmente se estivesse harmonizando com uma boa cerveja ou um bom vinho branco ou rose. Os fregueses começavam a chegar, ou seja, chegava a hora da prova da entrada. E acreditem, eles não só gostaram, como pediram que eu repetisse em algumas mesas. Minha cara de felicidade era nítida. Tão nítida que um cliente que discutia com sua esposa, achou que eu estava rindo de sua cara. O cara ficou tão possesso que eu tive que pegar um pão italiano para me defender. Não adiantou muito. Enquanto eu fugia, ia pegando o que encontrava pela frente para jogar para trás. Numa das mesas, um garçom se preparava para cortar um melão. Adivinhe só o que aconteceu? Peguei o melão e rolei para trás. O problema foi eu ter atingido o marido da Dona Leci, e não o freguês irado. Eu pedi desculpas, mas não teve jeito, pois a Leci disse que eu deveria ficar servindo café e não jogando comida pelo restaurante. Como lá não tinha café, fui pra rua junto com o casal briguento. Já mais calmos, principalmente o marido, convidei os dois para tomar um café. Eles aceitaram e tudo terminou numa boa! E viva o papel do COZINHEIRO! #UmBicoPorDia

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

55 #Passadeiro

Quem disser que a única profissional gabaritada a passar roupas é passadeira, informe-se, pois o PASSADEIRO também nessa "parada", hein! Eu nunca tinha escutado, confesso, mas assim como o lavadeiro, nós homens também temos espaço no mercado de lavar e passar. Mas não são todos que dominam esse ofício. Eu, por exemplo, aprendi por necessidade. Estava sozinho e precisava passar uma camiseta de última hora, já que sair com a roupa toda amarrotada, não estava em meus planos. O Dona Bastiana (bico #54), da Lavanderia do Porto, além de lavar, também tinha atuação para passar roupa. E sabendo que eu precisava de um bico, me deu mais uma oportunidade de mostrar que eu mereço o emprego. Para não dar problema, ela me deixou responsável pelas camisetas. Tudo que saia da lavagem e secagem, passaria pelo meu ferro. Passei uma, duas, três......cinquenta camisetas (se não errei a conta). Eu já estava ficando quase com a mão cozida pelo calor do ferro. Parei para descansar e ver as atualizações em meu blog. Enquanto a mão semi cozida resfriava, eu segurava o celular com a outra. E ao me empolgar, encostei na tábua e o ferro que estava em pé no canto da tábua, caiu em cima da mão que . Era como se eu colocasse um filé cru, ou melhor, mal passado, em uma chapa quente. A única diferença, era que a chapa veio de cima. A tostada foi tanta, que por alguns segundos eu nem tive reação. Mas logo depois, deu um grito de "ai", que a seção parou. Eu não tinha tempo pra mais nada. Naquele momento era somente eu e minha mão. Enquanto me recuperava, senti um cheiro forte de fumaça. Olhei pra minha tábua e vi que o ferro ainda estava ligado e torrando a camiseta que eu estava passando. Na verdade o calor foi tanto que varou a camiseta e já estava consumindo a madeira da tábua. Não pensei duas vezes, peguei o ferro e coloquei na tábua ao meu lado. Eu nem vi direito, apenas o peguei e coloquei do lado. O problema é que ao lado tinha outro colégio. E nem preciso dizer que o ferro tostou a mão dele também, certo? Já éramos dois queimados, uma tábua marcada e uma camiseta varada. Dona Bastiana não quis mais nada. Achou melhor oferecer a saída, antes que eu tomasse ferro. E viva o papel do passadeiro. #UmBicoPorDia

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

54 #Lavadeiro

O homem que lava roupas, seja na mão, seja utilizando maquinário próprio para lavá-las, é o LAVADEIRO. Eu confesso que nunca tinha escutado esse nome, mas se existe a mulher que lava roupas, por quê não pode existir o homem que também as lava? Antigamente, direta ou indiretamente, todo mundo lavava roupas na mão. Hoje, embora ainda existam pessoas que as lave usando o muque, a maioria divide essa tarefa com a tecnologia. Na verdade nem é divisão, pois são as máquinas que lavam tudo. Sobra mesmo para nós, tirá-las da máquina e estendê-las no varal. Quando é claro, não há a participação da secadora. É tudo muito simples. E se é simples assim, pegar um bico em uma lavanderia, é mais prático ainda. Peguei minha bicicleta e lá fui eu tentar algo em uma lavanderia que fica aqui no bairro, a Lavanderia do Porto. A Dona Bastiana, a responsável pelo "pedaço", me explicou rapidamente o ofício e lá fui eu lavar a minha primeira trouxa de roupas. Coloquei tudo na máquina, adicionei o sabão e o amaciante, programei e apertei o botão para ligar. A água começou a jorrar, mas o problema é que ela não ficava retida no tambor e vazava por algum canto. Tirei toda a roupa da máquina e comecei a investigar, para ver se achava algo. Achei. Era um cano desconectado. Recoloquei as roupas e na hora de ligar, a água não jorrou mais. Aff! Tirei as roupas pela segunda vez e fui ver o que estava acontecendo. Como não encontrei nada, resolvi chamar a Dona Bastiana. Ela deu uma olhada rápida e disse que estava tudo certo. Mas pediu, antes de eu ligar, que desse um banho de água sanitária no tambor, pois ele estava começando a ficar encardido. Fiz o que ela me pediu com todo o cuidado, já que água sanitária mancha que é uma beleza. Enquanto deixei agindo, fui ver o que mais poderia fazer na lavandeira. Logo que me viu, a Dona Bastiana pediu que eu jogasse uma trouxa de roupas coloridas na máquina que estava ao lado da minha. Peguei a trouxa, joguei na máquina, adicionei o sabão e o amaciante e liguei. Eu estava feliz de conseguir ligar pelo menos uma máquina. E quando fui voltar pra minha, não a encontrei mais. E pra ajudar, as máquinas são todas iguais. "Mas pera aí! Será que eu coloquei as roupas colori...!". Putz! Joguei as roupas coloridas na máquina com água sanitária! rapidamente tirei tudo, mas não adiantou, o que era colorido, havia ficado manchado como aquelas camisetas de hippies, sabem? O cliente quase me deixou de molho e a Dona Bastiana coitada, quase teve um treco. Agradeci e achei melhor ir embora. E viva o papel do lavadeiro! #UmBicoPorDia

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

53 #Radialista

Eu tive uma fase em que era bem tímido. Quando a gozação virava para mim, eu me enrolava todo, ficava vermelho e acabava me irritando e não levando na esportiva. Mas o tempo foi passando, eu fiz teatro e comecei a me soltar. Acho que foi próprio do meu desenvolvimento mesmo. Enfim, hoje não só gosto de falar, como de imitar as pessoas. E quando pego alguém para imitar, é de "cabo a rabo", ou seja, imito o jeito dela andar, se comportar e é claro, de falar. Por conta dessa facilidade, passei a criar vozes e até começar a pensar em um dia, ser dublador. E foi exatamente por eu ter esse "Lado B", que meus amigos radialistas, Cesar Oliveira e Edu Thomaz, da Rádio Pirapora, resolveram me chamar para ser RADIALISTA substituto. A ideia dos dois, seria que eu substituísse um colega que havia entrado em licença paternidade (aquela que dá aos pais apenas cinco dias corridos para ficar com a mulher e o filho, que acabou de nascer. Aff!). Eu teria que me habituar com o protocolo de trabalho, microfone, botões, atender os ouvintes e tocar as músicas. Mas meus dois amigos, logo me prepararam para minha estreia. Eu confesso que estava um pouco nervoso com aquilo tudo. Aquele frio na barriga clássico, sabem? Tudo preparado. Eu já estava com fones e com o microfone ajustado. A música de introdução do programa começou. A deixa era que quando ela terminasse, eu deveria saudar os ouvintes e me apresentar. A música terminou e eu travei. O Oliveira e o Thomaz, que estavam do meu lado, faziam gestos de "vai", "fala", "estamos no ar". E cinco segundos depois, que para mim parecia uma eternidade, eu disse: "Alô, ouvintes da Rádio Pirapora! Aqui quem fala é o Luccas Longo....". A expressão de alívio dos dois era nítida. A coisa estava indo tão bem, que os dois até saíram para tomar um café. E eu estava gostando muito daquilo. Ai chegou o momento de atender os ouvintes. "Bom dia, com quem eu falo?". Era uma senhora querendo reclamar do marido. A galera já havia me avisado que esse tipo de conversa deveria ser cortada. E para mostrar o meu "jogo de cintura", decido alongar um pouco mais a conversa. "Mas qual seria a reclamação, minha senhora?". E ela disse: "Esse homem não está dando mais no couro!". E foi só ela dizer isso, para eu olhar para o vidro que separa o estúdio de gravação do restante da sala, e ver o produtor, o diretor e meus dois amigos fazendo um gesto apavorado de "CORTA!". Eu já ia mesmo encerrar a conversa, mas antes decidi fazer uma observação. "Mas minha senhora, nessas horas você não pode se desesperar. O seu marido deve ser um homem de bem, que trabalha muito, que faz o possível e o impossível para garantir o bem estar de sua família". "Ele deve só estar passando por um perío.. !". Ela nem esperou que eu terminasse e gritando no telefone, disse: "Homem de bem? Trabalha muito? Bem estar? O meu marido não sai do bar, vive se enroscando com as vizinhas, volta tarde todas as noites e quando chega o final de semana, dorme!". "E tem mais, viu!. "Se você o está protegendo, que vá pra p.......!". Mas como tem ouvinte mal educado, hein! Onde já se viu? O Oliveira e o Thomaz agradeceram a minha participação e ainda foram amigos ao sugerir que eu saísse da rádio, pelos fundos. Bem , achei melhor mesmo! E viva o papel do radialista! #UmBicoPorDia

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

52 #Confeiteiro

Eu gosto muito de cozinhar. Não sou daqueles que se prende muito a receitas. Quando é algo que nunca fiz, claro que procuro segui-la. Mas quando repito o prato, tento fazer diferente. Esse diferente nem sempre é o bom, ok? Rs Gosto de cozinhar empiricamente, ou seja, como estivesse em um laboratório. Talvez seja por isso que as vezes as coisas espirram, borbulham e quase estouram! Hehe O meu lado cozinha surgiu graças a minha mãe, um talento na arte de cozinhar. A gente vai observando ao longo dos anos e quando nota, já está fazendo algo comível e que mata a fome. Não tenho ainda uma especialidade. A não ser a de comer, claro! Mas vamos lá! Hoje estreei como CONFEITEIRO, acreditam nisso? Pois é. Eu até tenho um pé na cozinha, mas esse bico foi um passo largo até demais! Aprendi muito, mas condimentei além do ponto. Vi um anúncio que estavam precisando de confeiteiro ajudante na Confeitaria Doce Pecado. A dona foi chacrete (dançarina do saudoso, Chacrinha. Quem não sabe quem foi, clique aqui :)) e quando se aposentou do palco, resolveu rebolar na confeitaria. A casa já tem muitos anos e é sucesso na cidade. Todo mundo quer provar o bumbumcado, digo bombocado, desculpe, da Dona Ana. O meu trabalho foi ajudar a aumentar a produção dessa doce iguaria. Meu setor era o de separar os ingredientes e ficar de olho no forno. Farinha de trigo, leite, ovos, coco, queijo... Enquanto o confeiteiro responsável preparava a mistura, eu ajustava o forno e untava as formas. Tudo estava pronto. Só faltava colocar os futuros doces pecados no forno. O confeiteiro disse que iria fumar um pouco e me deixou de olho no forno. Se tivesse crescido e ficado corado, eu deveria tirá-los do forno e deixar que esfriassem. Eles cresceram, mas não ficavam corados. E agora? Decidi aumentar a temperatura para ver o que acontecia. Não acontecia nada. Como o confeiteiro não voltava, eu era o responsável. E se era eu, eu tinha que fazer alguma coisa. E fiz. Tirei tudo do forno e modelei um por um em formado de bumbum. A massa ainda estava mole, então por que não inovar o bombocado em bumbumcado? Quando o confeiteiro chefe voltou, ele ficou paralisado. Até aí eu achei que estava abafando, mas quando a Dona Ana viu, eu tive certeza de que não estava. A mulher me deu uma bundada que me desequilibrou e me fez cair de cara na sua bunda. Ou melhor, no bombocado. Eu expliquei a ela que a releitura seria um sucesso e que tentei ser fiel ao seu par de glúteos. E foi só dizer isso, para eu tomar uma torta de limão bem no meio da cara. A torta estava ótima, mas tomei um chute na bunda! E viva o papel do confeiteiro! #UmBicoPorDia

domingo, 25 de janeiro de 2015

51 #Músico

Foram dois os cursos em que eu peguei para fazer sério: violão e pintura. Embora eu já desenhasse e soubesse utilizar alguns materiais artísticos, o curso de pintura, feito com um professor "ninja", nesse quesito, foi essencial para o meu desenvolvimento como artista. Entretanto, o de violão, não foi nada similar. E olhe que em casa eu sempre tive uma boa referência, o meu pai. Mas por mais que eu me esforçasse, não fui muito longe. Eu tenho ouvidos, mas não tenho a habilidade de tirar música só por escutar. Claro que sai alguma coisa, mas se eu não tiver a letra cifrada e não estudar por uns três ou quatro dias, não consigo apresentar nada que se preze. Daí pensei o seguinte: se tem tanta gente que toca e canta ruim, pelos bares e restaurantes e ainda ganha para fazer isso, por que não me juntar a eles? Eu tive muita sorte, do Boteco do João estar precisando de um MÚSICO para animar as noites de domingo. Como não sugeriram nenhum repertório, eu fui logo montando o meu. Nele tinha, "Chalana", "Cabecinha no Ombro", "A Praça" e "Índia". Mas por que essas músicas? Pois são as únicas que sei tocar "bem". A estratégia era tocá-las bem devagarinho para assim preencher a noite toda. Cheguei cedo no boteco. Vi onde eu iria ficar, afinei o violão e conheci os garçons. Estava tudo certo para começar. Os clientes começaram a chegar e em pouco tempo o salão estava cheio. Eu já deveria ter começado a tocar, mas sabe como são as coisas, não é mesmo? Já fazia muito tempo que eu não tocava nada. Então, eu precisava de um aquecimento. Os clientes já estavam fazendo aquela cara de desaprovação, quando o dono do boteco, o João, disse para eu começar logo, pois tinha cliente querendo ir embora. Sendo assim, comecei a tocar . Eu já estava tão empolgado, que dedilhava e cantava com os olhos fechados. Quando terminei, abri lentamente os olhos e vi que as pessoas estavam me olhando com uma cara de indigestão. Não pensei duas vezes, fui para a próxima, depois para outra....e quando chegou a hora do intervalo, o dono veio me perguntar se estava tudo bem comigo. Eu disse que sim e perguntei a razão. Ele comentou que os clientes estavam achando a apresentação péssima. Na volta do intervalo, toquei duas seguidas e ao terminar, notei que as pessoas estavam indo embora. Não deu outra, peguei o microfone e disse: "Ei pessoal! Se vocês ficarem, eu tento tocar "Eu Quero Ver o Oco!". Não adiantou. "Mas e Robocop Gay?", eu disse. Preciso falar que não adiantou nada? Mas foi bom para me mostrar qual é o caminho. E viva o papel do músico! #UmBicoPorDia             

sábado, 24 de janeiro de 2015

50 #Técnico

Ser técnico é ter o conhecimento prático de uma arte ou de uma ciência. Muita gente marginaliza os coitados dos técnicos, mas quando a coisa aperta, alguém chama um PhD para trocar o cano, tomada, pintar a casa ou arrumar a televisão? Claro que não. Chamam mesmo é o técnico. E se o chamam é porque tem trabalho de sobra, não? E se tem trabalho, tem bico sobrando por aí. E se tem bico, lá estarei eu. De todos os ramos, achei que seria melhor focar no TÉCNICO DE TV. Eu nem tenho conhecimento nessa área, apenas sei, assim como todos, operar o antigo "tubo televisivo" como usuário mesmo. E tem outra razão forte para ir atrás das tvs, o desemprego. Eu não poderia deixar passar uma oportunidade dessas. Claro que hoje em dia, os televisores estão cada vez mais modernos. É como se tivessem um "técnicozinho" dentro deles, pois basta acionar os botões do controle remoto, para que tenhamos tudo na nossa mão. Sendo assim, a minha estratégia era aproveitar essa moda retrô de restaurar coisas antigas, mesas, rádios, roupas, carros, bicicletas...e os televisores de tubo, por exemplo, para conseguir um trabalho. O Seu Tite, é  um técnico de tv e de assuntos gerais, que tem uma venda aqui perto de casa. Ele gostou da ideia,  aceitou o meu bico, mas não deu muito "o braço a torcer". Segundo ele eu não teria muito serviço com televisores antigos. Bem, mas foi só eu anunciar os serviços na redes sociais, que logo pela manhã, recebemos três televisores antigos. O Seu Tite ficou surpreso e logo foi mudando de opinião. O serviço não era nada muito complicado. Um televisor estava sem o botão da sintonia, o outro era para trocar a tomada e o terceiro e último, estava com a antena quebrada. Bom, depois de consertamos todos eles, chegava a hora de ligá-los para ver se estava tudo em ordem. O Seu Tite disse para eu ligar os três em uma tomada de barra e depois ligá-la na tomada com a voltagem certa. Enquanto o Seu Tite atendia um cliente, eu fiquei o responsável pelo teste nos televisores. Encontrei duas tomadas, uma era 110 volts e a outra, 220 volts. Pensei comigo: "se eu estou testando três aparelhos, deve ser uma voltagem maior, ou seja, 220 volts, claro!". E foi ligar e escutar um "BOOM" e ver uma fumaça escura saindo dos três aparelhos. Putz! Era como acabar de fundir o motor não de um, mas de três carros antigos e valiosíssimos. Os clientes queriam me matar e o Seu Tite então, nem se fala. Pedi mil desculpas, mas o canal acabou fechou sério para mim! E viva o papel do técnico de tv! #UmBicoPorDia

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

49 #Digitador

A adolescência é uma fase de muitas transformações e que passamos a nos interessar, por exemplo, por diversos cursos. Karatê, natação, violão, teclado, judô, pintura, ballet... No meu caso, fiz dois cursos em períodos distintos, o de violão e pintura. Mas alguns de meus amigos optaram por fazer um curso que não era muito comum, a datilografia, ou seja, a escrita que era feita nas antigas máquinas datilográficas, que também são conhecidas como máquinas de escrever. Ah! Já existia o computador nessa época, ok? Não sou tão velho assim! É claro que eu sabia da importância da datilografia e da utilidade que ela nos traz, especialmente para fazer aqueles trabalhos de História intermináveis. Se desse sorte de cair no meu grupo, alguém que fosse "ninja" nos teclados, iriamos economizar um bom tempo para fazer nosso trabalho. Ufa! Eu não fiz o curso, mas fui me adaptando com as teclas. Posso até demorar muito para digitar, mas eu digito. Agora o que não podia imaginar, é que um dia alguém fosse me convidar para ser DIGITADOR. Mas foi isso mesmo que aconteceu. Fui convidado para ser digitador de uma empresa de seguros de vida, a "Vem Kumigo". O trabalho estava bem acumulado. Sobre a minha mesa repousavam algumas pilhas bem densas de contratos e relatórios feitos a mão, para serem digitados. Se me dessem tempo e fossem pacientes, eu poderia fazer tudo aquilo numa boa. Porém, era um trabalho para ser resolvido até o dia seguinte e sem falta! Palavras do chefe da empresa, um "japa", o Sr. Alberto Syguro. Ele é daqueles japoneses que não se cansam e que querem ver o trabalho feito em tempo recorde. Até ai, tudo bem, mas as vezes temos que parar para dar uma volta, tomar uma água ou um café, trocar uma ideia com o colega do lado, enfim, descansar. Mas isso era inadmissível por lá. Para vocês terem uma ideia, a cada 20 minutos, lá vinha o Sr, Alberto perguntar se ainda faltava muito para terminar. Depois de várias perguntas, eu não aguentei e respondi a ele, que se eu não comesse, não tomasse banho e não dormisse, poderia terminar em mais ou menos, 2 dias. Eu teria que virar um zumbi, claro! Era muita pressão em cima de mim. E trabalhar sob pressão é uma ameaça para a concentração, que vai ficando cada vez mais difícil e favorável aos erros. Mas eu estava dando o meu máximo naquilo. Bom, eu teria mais 20 minutos de tranquilidade até ele voltar a fazer mais uma vez, a sua perguntinha clássica. Mas em 5 minutos ele voltou. E dessa vez não era para perguntar nada, mas exigir que eu parasse de fazer tudo aquilo e digitasse a renovação do contrato do seu sogro, o Sr. Fujiro Nakombi. A galera que estava do meu lado, logo me alertou que o Sr. Alberto virava um "cachorrinho" perto do sogro. Para os funcionários, era a simpatia em pessoa. E como normalmente ele não agia assim, isso causava estranheza em todos, já que estavam acostumados com um chefe que mais parecia um samurai que quer cortar a cabeça de todos. Me disseram ainda, que quando o sogro pedia qualquer coisa, era comum o Sr. Alberto dizer a ele, que não se preocupasse, pois ele mesmo se responsabilizaria por fazer seu pedido. E é claro que não era ele quem fazia, né! Então, para esse caso, não iria ser diferente. O cara me esfolava psicologicamente e ainda iria ganhar o mérito do meu serviço? Olha, eu juro que não foi proposital, mas diante do cansaço, cometi alguns erros de digitação. Depois que entreguei o contrato ao Sr. Alberto, ele foi logo entregar ao sogro, que o aguardava em sua sala. Já tinha dado até a minha hora, e enquanto pegava as minhas coisas para ir embora, tomei um susto enorme. Em japonês, o sogro do Sr. Alberto gritava tanto com ele, que mais parecia uma condenação de morte. Dez minutos depois, escuto a porta bater forte. E de repente vejo o Sr. Alberto vir em minha direção com "sangue nos olhos". Ele bufava e não dizia nada. Apenas me entregou o contrato que eu digitei. Peguei o documento e entendi que era para eu reler. E lá dizia: "Fujiro Nakombi é do sexo feminino e casado com o Sr. Alberto Syguro...". Ops! Feminino e casado com o sogro? E não parou por aí: "...o segurado afirma que seus bens deverão ser compartilhados com seu esposo, o Sr. Alberto Syguro...". Ops! Seu esposo? Eu nem sabia o que responder, apenas disse que foi o cansaço e a toda aquela pressão pra trabalhar. Ele nem quis saber. Disse para eu sair de lá antes que ele me transformasse em sushis. Eu em sushis? Tô fora. E viva o papel do digitador! #UmBicoPorDia

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

48 #Pipoqueiro

É claro que eu já tive muitas pipocadas, ou seja, meus momentos de medo. Entretanto, não sou daquelas pessoas que desistem de fazer algo porque estão com medo das consequências. Apesar que depende muito de quais são essas consequências, é claro. Quem me conhece sabe que sou um cara pacífico. Para me deixar muito nervoso, a temperatura tem que subir demais. Assim como o grão de milho de pipoca, que estoura na panela que está no fogo. Poucas vezes eu estourei. Mas eu não estou aqui para uma sessão terapia, mas para contar a vocês como foi o meu bico de hoje. E ele tem tudo a ver com o pipocar, já que graças ao grão de milho, existe a pipoca e o clássico, PIPOQUEIRO. Queimada ou não, todo mundo já fez pipoca em casa. Sendo assim, esse seria um bico tranquilo de se fazer. Colocar o óleo, esperar esquentar, jogar o milho e mexer para não queimar, não é nenhum "bicho de sete cabeças", certo?Errado, pois para queimar, basta estar bem desatento. Eu estava voltando pra casa pela Avenida Paulista, a via mais famosa de São Paulo, quando encontrei o Seu Firmino, o pipoqueiro com atuação mais antiga do pedaço. Já fazia tempo que eu queria comer uma pipoca doce, então logo que o vi, parei e pedi uma. Enquanto comia, vi um cartaz fixado no seu carrinho, que dizia: "Precisa-se de pipoqueiro". Não pensei duas vezes, o chamei de lado e me ofereci para o cargo. Ele perguntou se eu já tinha trabalhado com pipoca. Eu disse que embora só tenha a a experiência de ter  comido, sempre tive curiosidade para saber como se faz a pipoca doce. Pela curiosidade, por eu ser um cliente antigo e por ele precisar sair para resolver uns problemas, ele decidiu me dar esse bico. Depois de explicar o "beabá" da pipoca, deixou o carrinho comigo e foi resolver seus pepinos. Eu estava bem entusiasmado e mantendo a receita a risca. Ai a pipoca acabou. Eu precisava fazer mais. Peguei os ingredientes e comecei a montar a nova safra, simples. De repente um pipoca estoura como se desse sinal para as outras fazerem o mesmo. Parecia um tiroteiro. Principalmente pelo fato da panela estar destapada. Destampada? Putz! Esqueci de colocar a tampa! E naquela hora nem tinha o que fazer, pois chegar perto de uma panela em erupção é tomar pipocada na cara. Era um tal de pipoca alvejando quem passava pela calçada, que é só vendo. Eu nem tinha o que fazer, a não ser ir pedindo desculpas conforme cada pipoca se projetava da panela. O Seu Firmino parece até que pressentiu, pois logo estava de volta. Disse para mim que se eu fosse um milho, ele teria o prazer de me torrar. Uia. Viva o papel do pipoqueiro! #UmBicoPorDia    

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

47 #Vidraceiro

Ser transparente como o vidro. Parece até um ensinamento vindo do Sr. Miyagi (quem não conhece, dê um Google), mas não é, Daniel San! É ser franco e aberto. Eu prefiro até achar que é uma qualidade de muita gente, mas por acabarmos lembrando mais das pessoas que sao o contrário disso, chegamos a conclusão que as transparentes são mesmo raras. Mas agora chega desse papo de auto ajuda, pois tenho mais um bico pra confidenciar, o de VIDRACEIRO. Esse importante profissional pode até não ser transparente, mas sua matéria prima depende dessa qualidade. Sempre que uma janela quebrava em casa, por bola, tênis, bolinha de gude, ou qualquer objeto de uma brincadeira ou briga entre irmãos, que atingia uma das coitadas, recorríamos ao Seu Paulo, um vidraceiro que tem sua venda aqui na rua de casa. Graças a ele, peguei um bico de auxiliar de vidraceiro. Minha função era de auxiliar, claro, mas também de fazer a entrega e a instalação.Depois de um curso rápido com o Seu Paulo, onde aprendi a manipular a massa de vidraceiro e até a cortar vidros, fomos para a minha primeira entrega. Deveríamos instalar uma janela de correr na área de serviço de um apartamento da Vila Mariana. Chegando lá, vi que o cliente tinha uma hábito em comum comigo, o de observar aves. Aliás, a casa dele inteira tinham esses incríveis animais emplumados como base da decoração. Logo na entrada, um quadro com duas araras-canindé pintadas e acasalando, repousava acima do sofá da sala. Na cozinha, os azulejos estampavam sabiás, pica-paus e corujas. O gosto dele tanto que nos recebeu com um boné que imitava a cabeça de um grou-coroado. Eu gosto muito das aves, mas até agora não me passou pela cabeça, vestir um pijama de mocho-dos-banhados, passar a chamar os outros com vocalizações de aves ou ter a cama em formato de ninho. Pode não parecer, mas saibam que minhas faculdades mentais ainda estão em pé. Mas vamos voltar para a instalação da tal janela. O Sr. Cuco (me permitam chamar o cliente assim, ok?) não desgrudou de nós um minuto. Ele precisava ter certeza de que nós não iriamos derrubar o comedouro de aves, que ele fixou do lado de fora da janela. Segundo ele, os sabiás-laranjeira, sanhaçus-cinzentos e dos coqueiros, cambacicas e os periquitos-ricos, dependiam daquela "mesa" todo santo dia. E eu tenho que dar crédito ao Sr. Cuco, pois ser ave nos dias de hoje, não é nada fácil. Eu estava posicionando a janela no trilho, quando de repente, nosso amigo grita: "falcão-peregrino"! Automaticamente eu larguei a janela e disse espantado a ele, "onde?". E foi dizer isso para escutar a janela se espatifar sobre o jardim do prédio. Putz! Era vidro pra todo lado. Com o barulho do impacto, só se viam cabecinhas pra fora das janelas. Gente xereta, viu! Aff! O Seu Paulo virou uma arara. O Sr. Cuco estava mais interessado em registrar o falcão que veio do Hemisfério Norte, do que a janela espatifada. Eu nem esperei a ficha dele cair para ver qual seria a ave que ele iria se transformar. Será que viraria um parente próximo? Um tiranossauro, quem sabe? Enfim, já chega o Seu Paulo ter virado uma arara. Fui embora de lá voando! E viva o papel do vidraceiro! #UmBicoPorDia

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

46 #Livreiro

Eu já falei pra vocês (bico #40), as bancas sempre foram lugares de passagem obrigatória pra mim. Mas quando o destino são os sebos e as livrarias, aí a coisa muda de dimensão. Eu juro que poderia ficar dias e dias nesses lugares. É uma relação que começou através de meu avô e do meu pai, duas pessoas que foram essencias para essa aproximação sensorial, sentimental e de conhecimento com os livros. E poder garimpar, manusear, sentir seu cheiro e lê-los, é sempre muito bom. Tudo bem que eu tenho uma pilha de livros ainda para ler, mas enquanto isso não acontece, eles estão bem seguros aqui em casa. E já que eu tenho essa intimidade com os livros, por quê não ir atrás de um bico com eles? E foi exatamente o que eu fiz. A Traça Cultural, uma livraria famosa por proporcionar até as traças, leitura agradável. A razão disso tudo é que eles tem uma sala fechada por vidros, onde os livros que estão muito avariados são literalmente devorados por esses invertebrados estudiosos. E os clientes podem acompanhar essa leitura demolidora, enquanto passeiam pela livraria. Bom, a minha função era dupla. Seria LIVREIRO e ao mesmo tempo, cuidaria da saúde das traças. Para cuidar delas eu deveria ficar de olho na temperatura, na umidade e na escolha dos livros que seriam devorados no mês. Logo que cheguei para iniciar o bico, verifiquei as condições meteorológicas e bibliográficas da sala. Como estava tudo certo, passei a minha segunda função, ou seja, a de vender os livros. Entre consultas e vendas, eu corria para a seção de "Pais e filhos" e tentava absorver o máximo de informações que encontrava por lá. Quando a gente tem o primeiro filho, surgem milhares de dúvidas. As mães até tiram de letra, mas para nós pais que passamos a viver entre diferentes bicos (de chupetas e mamadeiras), fraldas, roupinhas e choros, é sempre aquele estado de não saber o que fazer e nem para onde ir. Com o tempo vamos ficando mais seguros ao ponto de até brincar com coisas que nos tiravam o sono. E não é que encontro "O Confissões de um Pai Despreparado" (Panda Books) , um livro bem humorado e que fala exatamente dessa minha atual fase. Eu não queria mais parar de ler. Os clientes iam chegando e eu dizia para procurarem outro atentendente, pois como sou pai, eu tinha que terminar aquele livro antes de fazer qualquer outra coisa. Eu até via que os clientes estavam falando algo, mas eu estava tão compenetrado na leitura que não escutava absolutamente nada. Foi como tirar o som da televisão, sabe? Mas dai o som voltou. E era o som do dono da livraria, o Seu Jorge Grilo, que esbravejava para que eu desse o fora da livraria. Eu até tentei convencê-lo a deixar que eu terminasse de ler o livro, mas não teve jeito. O bico pode não ter dado certo, mas pelo menos sai de lá menos despreparado. E viva o papel do livreiro! #UmBicoPorDia       

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

45 #Barman

Durante um período de minha adolescência (que não faz muito tempo! Rs), eu passei a engordar a minha mesada com uns bicos (fui precoce na área) que eu fazia no bar da minha tia. Não era sempre, mas quando surgia, era aquela briga em casa para ver quem iria. Só um poderia ir. A disputa era entre eu e meus irmãos. Nos revezávamos, mas para ganhar uns trocados ajudando a tia, todos nós queríamos ir sempre. Muitas vezes a gente nem ganhava nada, mas íamos do mesmo jeito. É aquela coisa de poder descobrir a noite e voltar de madrugada, sabem? E para adolescente então, um prato cheio, ou melhor, drink cheio. Nosso trabalho era de BARMAN, mas acabávamos mesmo é pegando cerveja, água, refrigerante e fazendo suco. Quando pediam coquetéis, boa parte das vezes fazíamos caipirinhas e caipiroscas. Embora nossa função fosse de balcão, nos sentíamos os barmans do pedaço. Coquetel de frutas, alexander e blood mary também eram requisitados, mas muitas vezes isso ficava para os mais experientes. O tempo passou, mas eu ainda me lembro, ou acho que lembro, de como fazer esses drinks. E por acreditar nisso, que resolvi testar o bico em algum bar. O único a abrir as portas para mim foi o Seu Carlos, do Bar do Cachorro Trompeteiro. Barzinho charmoso que toca um bom jazz e tem bons coquetéis. Imaginem a responsa de trabalhar em lugar desse? Bom, eu já estava reabilitando a agilidade na caipirinha. Era uma atrás da outra. Os clientes estavam adorando e se embebedando também, claro. De repente o açúcar acaba. Perguntei pra galera onde tinha mais e disseram que era no pote verde, embaixo da pia. Achei o pote e continuei mandando ver junto com o chope, que eu também estava tirando. Eu não estava acreditando. Mas o encanto quebrou, quando o pessoal de umas três mesas vieram se queixar da caipirinha. Eu perguntei a razão e um deles disse para eu experimentar. E foi tocar a boca para perceber o erro. Sal. No pote verde tinha sal e não açúcar. E para complicar, eram dois potes verdes. Um escuro e outro claro. O Seu Carlos ficou nervoso, mas entendeu que qualquer novato iria se confundir. Disse para eu ficar, mas tomar cuidado. Começaram a pedir o bloody mary, aquele coquetel que a base é o suco de tomate, sabem? Então, foi um atrás do outro até o suco acabar e eu precisar ir atrás de mais. Jarra branca na geladeira, disseram. Peguei a jarra e fui fazendo até eu escutar um grito no salão do bar. Era um homem com uma fala enrolada. E adivinhem só o porque? A boca do coitado estava pegando fogo. Estranho! Eu nem tinha coloquei muita pimenta, disse a um dos garçons. Quer dizer, eu só coloquei pimenta. Tinham duas jarras brancas na geladeira. A da frente era molho de pimenta concentrado e a segunda, a de suco de tomate. Bom, depois de salgar e apimentar, o bico azedou e o Seu Carlos amargou. E viva o papel do barman! #UmBicoPorDia

domingo, 18 de janeiro de 2015

44 #Chopeiro

Você quer com ou sem colarinho? Essa é uma pergunta corriqueira que o CHOPEIRO faz ao cliente. Muita gente acha que o colarinho é desprezível, mas não é não. Saiba que bico também é cultura. Se não fosse o Sr Fritz, do Bar do Circo, eu não saberia que a espuma mantém a temperatura e as qualidades da cerveja. Ele funciona como uma tampa. Sendo assim, tem gente que pede com tampa, sem tampa ou com uma tampinha. O Sr Fritz é um mestre cervejeiro aqui do bairro que decidiu começar a produzir sua cerveja e ao mesmo tempo homenagear o circo, uma escola para ele, em um bar. Hoje ele está aposentado do picadeiro, mas quando era novo, dizem que ninguém segurava esse alemão no tecido acrobático. Embora ele esteja fora do circo, hoje a estrela é a cerveja que ele produz. E como o negócio esta indo bem, a sua ideia era expandir o bar para conseguir acomodar mais gente. E se vai expandir e ter mais clientes, ele precisava aumentar o número de funcionários. E foi aí que eu entrei. O alemão disse que para começo, eu deveria ficar como chopeiro, ou seja, tirador de chope. Depois de um curso rápido, eu já estava tirando chope com vários níveis de colarinho. Estava na maior curtição. Aliás, é provável que ainda estivesse, se um problema não tivesse acontecido. Como o barril de chope terminou, alguém teria que trocar. Mas com o bar cheio e todo mundo ocupado, teria que ser eu esse alguém. Olhei as conexões direito e mandei ver. O problema foi quando eu fui conectar a mangueira no barril cheio. Acabei conectando-a na diagonal e uma rajada de chope espirrou, lavando todo mundo do bar. Depois do susto, tinha até gente enchendo o copo diretamente no jato, já que ele não parava de sair. O Sr Fritz de rosado foi para vermelho e de vermelho foi para roxo. Esbravejou em alemão e eu não entendi nada. Na verdade só entendi uma coisa. Ou melhor, quase duas. A primeira foi sobre o colarinho e a segunda eu não sei direito, porque estava em alemão. E viva o papel do chopeiro! #UmBicoPorDia

sábado, 17 de janeiro de 2015

43 #Feirante

Lima, pêra, seleta, bahia...essas são as laranjas tradicionais que acompanham nossa vida. Iniciamos com a laranja-lima, pêra e por aí vamos indo de suco em suco. Eu estudei a Botânica (a ciência das plantas) e sei identificar bem um fruto. Então trabalhar com eles, não seria problema nenhum. Graças ao Sr. Nicola, um italiano de Araraquara (SP), a capital mundial da laranja, peguei o bico de FEIRANTE. Como ele teria que viajar para visitar a família, me deixou responsável (olhem só) por sua banca, junto com seu filho. Ele nem me conhecia direito, e eu já estava dividindo a responsabilidade por sua banca. Enfim, foi com a minha cara, claro! O serviço não tinha muito mistério. Eu deveria apenas separar as variedades, organizar a bancada e vender. O quilo baixou e as vendas estavam indo muito bem. Mas se não fosse por um descuido meu, no momento da montagem da banca, a bancada não teria virado e as laranjas não seriam libertadas por rua abaixo. Pareciam aqueles provas com barreiras. As pessoas subindo a rua e as laranjas descendo e atropelando que estivesse no caminho. Um idoso tomou uma laranja-bahia na cabeça, um casal foi atingido por várias limas, um menino tropeçou em uma bahia e caiu sentado em duas pêras. Era um tal de laranja quicando pela rua, que vocês não fazem idéia! Rs (desculpem, mas na hora foi um pouco engraçado) O filho do Sr. Nicola, o Nicolinha, que estava ali junto comigo, me chamou de bagaço e disse para que eu tentar ganhar a vida em outro lugar, porque com laranjas o prejuízo já estava alto. Não deu nem tempo de eu praticar o meu slogan de feira, pô! E viva o papel do feirante! #UmBicoPorDia

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

42 #Servente

Um bom pedreiro é aquele que faz de tudo, mas sem deixar desmerecer o serviço, principalmente quando o assunto é o acabamento. Todo mundo tem histórias para contar dele. Sejam elas boas ou ruins, é ele o responsável que deixará, ou pelo menos irá tentar deixar, o que você pediu no prumo. Eu sempre tive sorte, pois os pedreiros que passaram por minha casa, sempre foram gente boa. Até mesmo quando não faziam as coisas direito. E foi através de um deles, o Seu João, que consegui um bico. Como eu não tinha nenhuma habilitação especializada no assunto, fui ser SERVENTE DE PEDREIRO, ou seja, o ajudante. Eu até falei para o Seu João que por ser artista gráfico e gostar de fazer trabalhos manuais, isso poderia me ajudar em alguma tarefa. Ele não ficou muito convencido, mas também não disse nada e foi logo me colocando para rebocar uma parede. Bom, vai ser como revestir um bolo, pensei. A massa já estava pronta, bastava então, molhar os tijolos, para uma melhor aderência, e mandar ver com a espátula. Fiz a base da parede e fui subindo. Quando eu estava na metade, parei para descansar um pouco, pois com esse calor todo não dá para arriscar. Eu estava na sombra do telhando quando escutei um canto grave, vindo logo acima de mim. Não era possível ver quem era o tenor emplumado, mas ele não parou de cantar. Como sou um observador atento, eu tinha que descobrir quem era. Olhei para dentro da obra e vi uma escada. Peguei a dita cuja e encostei na parede ao lado de onde eu chapiscava. Eu não ia correr o risco de estragar a minha parede, encostando a escada nela. Posicionei a escada e subi um, dois e quando ia acessar o terceiro degrau, metade do muro caiu para o outro lado. Imediatamente a escada virou uma gangorra e eu fui jogado de cabeça sobre os tijolos do muro. Olhei para trás, e vi o Seu João com aquela cara de total desaprovação. Eu disse que ele não se preocupasse, pois eu iria juntar todos os tijolos e colar um por um. E ele disse: "colar um por um"?. Respondi: "mas eu posso colar de dois em dois?". O Seu João riu e disse que não daria muito certo um artista trabalhar na obra. Para ele, seria mais interessante que eu envolvesse na parte de decoração, mas, por favor, não na construção. Talvez ele esteja mesmo certo. Enfim, viva o papel do servente de pedreiro! #UmBicoPorDia    
  

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

41 #Massagista

Pessoa habilitada para a aplicação de massagem é o MASSAGISTA. A Anatomia sempre foi uma das minhas disciplinas prediletas do curso de Biologia. Eu gostava e ia muito bem nas provas, especialmente nas práticas, O estudo envolvia também a neuroanatomia (a que estuda os órgãos do sistema nervoso). Tudo bem que Anatomia e massagem são coisas diferentes, mas sabendo um pouco de músculos e nervos, já ajudaria muito. Entretanto, eu teria que antes fazer um curso rápido para saber um pouco mais a respeito. O bico era para ser auxiliar do Mestre Yoda, proprietário do Instituto Zen Nada. Yoda é uma figura importante da massoterapia (a terapia que trata os outros com massagens) no Brasil. Ele é tão importante, que para muitos é tratado como um ser especial. Sua técnica consiste em não somente massagear o corpo do paciente, mas tratá-lo também com o uso de um laser. Ninguém entende muito o que ele fala, mas quando começa a massagear, é de causar até milagres. Bem, depois do mestre me explicar o que eu deveria fazer, pediu que eu fosse preparando uma paciente, pois ela iria se preparar para o atendimento. A paciente estava com uma forte torcicolo e eu deveria energizar o pescoço dela para que quando o mestre chegasse, a força tivesse uma ação melhor. Então comecei a massagear cuidadosamente cada lado do pescoço e a mulher vira do nada e começa a me olhar. Olhei surpreso para ela e disse: "Milagre". Eu te curei!?". Ela disse para eu relaxar, já que ela estava louca para ser massageada por mim. Ops! Eu disse a ela que o Instituto não oferecia esse tipo de massagem, mas se ainda tivesse com torcicolo, eu poderia resolver. Ela insistiu e disse que pagaria o que for preciso para ser "massageada com muita força". Eu disse a ela que eu poderia tentar tirar só a torcicolo, já que sou casado e tenho até filhinho pequeno. Não contente, ela começou a esbravejar e agitar o pescoço. De repente escuto um "cleq". O pescoço dela tinha travado. Procurei o Mestre Yoda, mas não o encontrei. Sendo assim, só haveria um jeito, eu mesmo tentar ajudar. Identifiquei os ponto de tensão e passei a massageá-los com força. O problema é que a força foi tão grande que desalinhou um nervo  das costas da tarada. Conclusão, pescoço e costas travados. A essa altura do campeonato, ela nem estava mais esbanjando sensualidade, mas ira. O Mestre Yoda, mesmo sendo zen, disse que eu não deveria se preocupar, pois a força sempre estaria comigo.Na rua, claro! E viva o papel do massagista! #UmBicoPorDia   


quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

40 #Jornaleiro


Quem trabalha em banca é banqueiro? Não. Então é bancário? Claro que não, né! Rs Se assim fosse, as bancas seriam blindadas e além das inúmeras linhas de texto das revistas e jornais, encontraríamos também as linhas de crédito. Mas então é o quê? É JORNALEIRO. Ir a banca sempre foi uma diversão. A internet nem existia ainda, e para mim, ir a uma banca, era se conectar com o mundo. Das revistas de pintar, vieram as coleções, as revistas e os jornais. Cada um na sua época, mas não necessariamente nessa ordem. Quando eu viajava com minha família e o tempo não ajudava em nosso destino, passar por uma banca era essencial. O Seu Nelson, da banca da esquina, sempre cultuou o passado das bancas e trouxe para a sua, um pouco disso. A banca tem duas luminárias grandes do século passado, um cinzeiro de grande e de cobre na frente, quadros com fotos e até um baleiro das antigas. Coisa de entrar e se teletransportar para o passado. Enfim, o Seu Nelson anda acompanhando o meu blog (não é por que ele é idoso que seria incapaz de usufruir da modernidade, certo?) e resolveu me dar uma oportunidade em sua banca. A ideia dele é que eu ficasse responsável pelos jornais. Eu chegaria antes dele, ainda de madrugada, para receber os jornais. Depois eu deveria arrumá-los na estante para que pudesse vendê-los. Outro motivo pelo qual ele me escolheu, é por eu ser descontraído e gostar de falar. Tudo seria muito simples, porém trabalhoso. Receber os jornais não foi o problema, mas organizá-los junto com a venda, foi jogo duro. Lembrei de Chaplin em Tempos Modernos. Até agora estou repetindo os movimentos aqui em casa. Bom, eu já estava vendendo muito bem, mas resolvi bolar na hora uma estratégia para vender mais jornais. Quem levasse um jornal, ganhava uma revista surpresa. Veio empresário, empregada, dona de cada, taxista, padeiro, policial, gari...foi coisa de louco. Desse jeito, o Seu Nelson iria até me promover por conta da nova clientela que ele passa a ganhar. Era tanta gente diferente comprando que eu passei a nem reparar mais a fisionomia das pessoas. Aí chegou uma senhora com uma cara de brava. Eu ofereci a promoção, mas ela recusou e disse gritando: "Promoção? Como é que você vende um jornal para o meu filho de 10 anos e ainda dá a ele uma revista pornográfica?". Ops! Engoli seco e tentei me explicar dizendo que ela poderia guardar a revista para quando ele tivesse mais idade. Nesse meio tempo, chega o Seu Nelson assustado com aquilo tudo. "Mas o que está acontecendo aqui?", disse ele. Sem ter tempo de responder, chega um cara engravatado e bem nervoso, dizendo que quase foi demitido pelo chefe. O superior pediu a ele que comprasse um jornal e quando este o abriu, no café da empresa, caiu de dentro dele, uma revista voltada para os gays. Na hora, ninguém disse nada, mas foi um "zum zum zum" paralelo, que ele teve que para o serviço e declarar a todos que não tinha nada contra as opções sexuais de cada um, mas que não era gay. Como se não bastasse, chega uma freira reclamando que no jornal dela veio uma revista feminina de fisioculturismo e que era um pecado....Só sei que diante tanto problema, o Seu Nelson disse que trabalhar por ali, não daria certo para mim. E como o passado para ele é muito sério, ele não conseguiria trabalhar olhando para mim do outro lado da banca. Desculpas dadas, e mais uma vez, segui o rumo da rua. E viva o papel do jornaleiro! #UmBicoPorDia

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

39 #Jardineiro II


Duas coisas me deixam felizes nessa jornada pelo emprego: a primeira é poder "levantar a bola" das profissões esquecidas e a segunda, é que mesmo que as coisas não tenham saído como combinado durante os bicos, percebo que estou  fazendo amigos ao longo desse caminho. Dois exemplos foram o Zé da Grama (bico #36) e a Dona Jatobá, da Floricultura Bem Me Quer (bico #29), que tiveram a sensibilidade de perceber que o meu esforço e o meu conhecimento botânico mereciam uma segunda chance. Não, não foi na floricultura, mas como JARDINEIRO de um grande condomínio de um bairro nobre da cidade. Meu primeiro serviço foi no apartamento do Sr. Benedito, um milionário aposentado, mas que se dedica atualmente a cuidar de sua grande floreira de gerânios (vejam na foto) que tem em sua sacada. Embora essas plantas sejam nativas do continente africano, enfeitam hoje muitos países europeus e americanos, como o Brasil, onde se adaptou muito bem ao nosso clima. São muito comuns para enfeitar jardins e principalmente as janela quando são plantadas em floreiras. O Sr Benedito queria que eu descobrisse a razão de suas plantas estarem morrendo e que eu as trata-se também, pois além de alegrarem o seu ambiente, ele utiliza as folhas da planta para fazer um chá. Mas chá,  eu disse a ele. Segundo ele, Horácio, um poeta romano, tomava para aumentar sua capacidade de aprendizagem. Todo dia o Sr Benedito toma uma xícara de chá, pois assim ele pode acompanhar as ações de sua empresa e administrá-la de casa. Bem, lá fui eu dar uma olhada nessas plantas de QI alto. Logo quando cheguei vi que as plantas estavam com as folhas murchas e o solo bem ressecado e empobrecido. A estratégia seria enriquecer e hidratar mais o solo para ver se as plantas dariam um sinal de vida mais intenso. Adubei o solo e quando fui hidratá-lo, notei que não havia torneira na sacada. Como é que um condomínio não tem torneira na sacada? Mas a empregada do Sr Benedito, muito bem precavida,  já sabendo que eu iria precisar de água, deixou vários garrafões cheios na sacada. Sabem aqueles garrafões grandes de vinho? Então, foram esses os que me deram suporte com a água. Despejei um, dois e três, mas ainda faltava colocar mais água. Aí eu olho para a sala de estar, e vejo um garrafão igual, próximo do bar. Não pensei duas vezes, fui até lá, peguei o garrafão e o despejei todo na floreira. Se eu estivesse certo, em poucos dias, os gerânios iriam dar uma resposta. Enquanto isso não acontecia, eu fui ver outro apartamento. Nesse os proprietários gostariam de fazer um gramado na sacada. Loucura, não? Estava lá conversando com os donos quando o interfone toca. Era o síndico pedindo com urgência, a minha presença no apartamento do Sr Benedito. Cheguei lá e todos, mas todos os gerânios estavam murchos. O Seu Benedito estava passando até mal por isso. Eu nem sabia o que dizer. Eu até pensei em um fungo mutante, radiação, gases tóxicos, mas a dúvida continuava. Contei a eles todos os meus passos. Mas quando eu comentei que usei o garrafão perto do bar, o Seu Benedito  quase teve um troço. A empregada o acudiu, e eu peguei o tal garrafão para ver se não conseguia descobrir algo. E descobri. Descobri que eu tinha regado os gerânios com  a cachaça. Como a cachaça estava em um garrafão igual aos da água....não teve jeito, matei os gerânios do Sr Benedito de cirrose. Embora eu não tivesse culpa, eles acharam melhor que eu fosse cuidar dos capins da rua. Diante da falta de plantas, bem que o Sr Benedito poderia ter aceitado a minha sugestão de passar a fazer cruzadinhas, mas...Viva o papel do jardineiro! #UmBicoPorDia   

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

38 #Caixa

Eu nunca fui bom em matemática. Me lembro que quando estava no colégio, vivia pensando como seria bom se ela se resumisse a fazer contas de mais, de menos e de vezes. E quem quisesse se aprofundar, poderia seguir por outro caminho. Eu podia ir mal, mas sempre me esforcei muito para resolver as coisas. Eu cresci e aprendi a me virar com as contas. Em último caso, eu teria os meus dez dedos nas mãos para ajudar a resolver o problema. Então fica claro que minha inteligência pousa em outro galho. Um bem longe das ciências exatas. Sendo assim, quem é que imaginaria que um dia eu iria procurar bico de CAIXA? E não é que eu peguei um bico de caixa em uma grande rede atacadista de materiais de construção, a Dumbo Elétrico. O trabalho não teria muito segredo, pois quem faria as contas não seria eu, mas, felizmente, o computador. Ufa! Entretanto, tinham umas teclas de abertura, fechamento, de chamar o gerente e a de perigo, Essa última só poderia ser usada se realmente houvesse uma situação de perigo. Como aquela unidade já tinha sido assaltada muitas vezes, eles criaram um sistema de segurança altamente eficiente. Pensei comigo, nunca vou precisar usá-la. Bom, a loja abriu as oito da manhã. mas as sete e meia, eu já estava sentado no caixa. Como o preço dos produtos eram muito convidativos, a loja sempre estava cheia de gente. E quando ela abriu, muitos clientes já aguardavam para entrar. Eu nunca vi uma loja de construção atrair tanta gente. O trabalho ia muito bem, Eu contava até piadas e fazia rápidas caricaturas dos clientes. Era uma alegria só. O problema veio no momento em que eu atendia uma senhora de andador. Quanto a ela, nenhum problema, mas se eu não fosse tão atrapalhado, não teria batido na tecla de perigo. Uma sirene começou a tocar, as portas da loja se fecharam numa velocidade enorme, uma grade subiu do nada, e fechou eu e a senhora. Todo mundo estava paralisado e olhando para o meu caixa. Eu até perguntei se estava tudo bem, mas essa foi a pergunta que eles faziam para mim. Me diziam a todo momento para ter calma. Cinco minutos depois, entram na loja vários policiais armados até os dentes. Como em um esquema de guerra, os policiais foram lentamente se aproximando do meu caixa dizendo sempre, para eu ficar calmo e não reagir. Eu não estava entendendo mais nada e de repente, a polícia joga uma lata de gás lacrimogênio. Eu gritei e disse para eles que havia uma senhora ali. Mas eles nem se importaram e continuavam a se aproximar. Nesse tempo eu já não conseguia ver nada por causa do gás, mas escutei um policial negociar com a senhora, a sua rendição. O efeito do gás foi passando, passando e a minha visão voltou. Voltou ao ponto de eu nota algo bem estranho no andador da senhora. Era um fuzil em uma de suas pernas (do andador, claro!). Eu fiquei paralisado com aquela situação. Quem poderia imaginar que aquela velhinha fosse tão barra pesada? Como estávamos cercados, ela se entregou numa boa e disse que eu estava marcado na lista negra dela. O dono da rede  veio pessoalmente me cumprimentar pelo ato de bravura e heroísmo. Tudo por que eu bati na tecla por engano? Eles nem acreditaram, claro. Só sei que esse bico me deu tanto medo, que pela primeira vez eu resolvi pedir para ser colocado na rua. Eu, hein! Tô fora! E viva o papel do caixa! #UmBicoPorDia         

domingo, 11 de janeiro de 2015

37 #Pizzaiolo

Uma vez li que em São Paulo, aqui na capital, se consomem por dia, 1 milhão de pizzas. É lenha, farinha, tomate, queijo, azeitona...que não acaba mais. É a dieta do paulistano. Dieta essa entregue sob responsabilidade de uma figura clássica, o PIZZAIOLO. Faça chuva ou faça sol, lá está ele entregando a pizza ao seu destino. Temos que bater palmas para ele. Tudo bem que quando atrasam, não são bem as palmas que queremos dar, não é mesmo? rs Enfim, minha ideia era pegar esse bico e entregar as pizzas de bicicleta. Dessa forma, eu voltaria a me exercitar e ao mesmo tempo tiraria um dinheiro para ajudar em casa, Então já vou logo dando um salve para a Pizzaria do Jabuti, que foi a única que me deu um voto de confiança nessa estratégia. Eles curtiram a ideia da bicicleta, pois a entrega, até então, era só feita a pé e é claro, a lugares próximos. Foi ao que passei a entender a relação com o jabuti. Pura injustiça contra esse pobre animal! Mas vamos lá. Cheguei uma hora antes de começar a fazer as entregas, pois queria me habituar um pouco, ver se estava tudo certo com a bicicleta e GPS. E o telefone toca. Era a minha primeira entrega. Eu deveria levar uma pizza de estrogonofe (isso é pizza que se peça, pô?) em prédio bem próximo da pizzaria. Coloquei a pizza na garupa e pedalei até lá. Chegando, o porteiro pediu que eu subisse com a pizza, já que o cliente não tinha como descer. Achei estranho, mas subi. Era o 10º andar, apartamento 102. Toquei a campainha e uma senhora abriu a porta. A mulher vestia um casaco de pele grosso e um chapéu estranho, do tipo russo. E foi só ela abrir a boca para eu perceber que realmente se tratava de uma russa da "melhor idade". Eu não entendi muito o que ela falava, pois o português era muito ruim. Entreguei a pizza, mas quando eu estava já saindo ela disse: "Kero ki você toma vodka komigo!". Eu recusei, pois estava trabalhando e também pelo fato de não curtir beber o tal destilado russo. Mas como ela insistiu dizendo que mora sozinha e que se sente muito só, eu topei e disse: "Mas só uma dose, hein!". Ela concordou, mas foi oferecendo mais e mais e mais. Quando realmente consegui sair de lá, chega o marido dela, um cara enorme e que pesava uns 200 kilos. Ao ver a cena, ele foi logo questionando a mulher em russo, claro. Eu estava parado ali sem entender bulhufas. Depois ele vira para mim e pelo que eu entendi, ele achou que eu estava seduzindo a mulher dele com vodka. Seduzindo com vodka? Eu me expliquei dizendo que não era nada daquilo e depois de muito tempo, ele se desculpou. Ufa! Imagine só se ele sentasse em cima de mim? E disse em um português também péssimo, que eu só iria sair de lá se tomasse toda a garrafa de vodka. Seriam as pazes. A contragosto, eu tomei, pois vá que eles tivessem algum envolvimento com a máfia russa? Já bêbado, saí do prédio quase que carregado pelo russo com a ajuda do porteiro. Imagine ter que pedalar nessa situação. Foi só eu dar umas três ou quatro pedaladas, para cair e só acordar no dia seguinte na calçada. Acordei na calçada e quando fui procurar a bicicleta , cadê? Tinham roubado tudo. Diante dessa situação, eu nem tinha muito o que fazer, a não ser ir até a pizzaria para contar o que aconteceu e me desculpar . Fui até lá, mas eles acharam a história louca demais para acreditar em mim. E disseram para eu continuar minha busca, pois aquilo não iria terminar em pizza! E viva o papel do pizzaiolo! #UmBicoPorDia

sábado, 10 de janeiro de 2015

36 #Jardineiro I

Cortar grama sempre foi uma brincadeira de férias, quando eu era pequeno. Vocês podem até se perguntar como é que uma criança pode gostar de brincar disso, mas como eu já me identificava muito com o que meu avô, tudo que era proposto por ele eu acabava topando. Era uma fase de descobertas. Jardim, pintura, marcenaria, coleção de rochas, conchas, insetos...Mas vamos voltar ao tema, grama. E sabendo cortar , fazer os cantos e replantar, tá tudo certo. Combinei com o "Zé da Grama", que sensibilizado com a minha situação, me ofereceu um bico de JARDINEIRO. Era uma casa grande e eu cortaria as bordas do gramado. Na noite anterior, tinha ocorrido uma festa e o jardim estava cheio de lixo. Com o tesourão na mão, lá fui eu. O sol castigava, mas eu estava focado no serviço. Conforme ia cortando, a grama revelava o lixo escondido. Garrafas, copos, bitucas de cigarro etc. E de repente, o tesourão pega uma garrafa de cerveja e parte seu pescoço. Eu nunca tinha visto um tesourão tão afiado como aquele. Corte de espada ninja. E corta, corta, corta e corta. Ops! Cortei algo que não devia. Era o conduite com a fiação de parte da casa. Uma parte bem importante. O escritório do dono da casa, que naquele momento estava fazendo uma transação importante no computador. O cara saiu do escritório enlouquecido e querendo saber o que havia acontecido. E eu com o conduite cortado e o tesourão na mão já era a resposta. E para complicar, sai a mulher dele com com roupão e com a cabeça toda ensaboada, querendo saber o que aconteceu, já que a água tinha ficado fria de uma hora para outra. Eita! Cortei também a energia dos chuveiros. No momento o dono só estendeu a mão e disse "fora". Eu disse que tinha sido acidente e que tentaria reparar, mas diante do ocorrido, sem chance. Pelo menos eu fiz um bom trabalho. Com a grama, claro. E viva o papel do jardineiro. #UmBicoPorDia

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

35 #Pedicuro

Você deve saber o nome de quem cuida da estética dos pés e das mãos, certo? Sim, é a manicure para as mãos, e a pedicure para os pés.  No meu caso, tentei dar uma de PEDICURO. Como existem mais mulheres trabalhando nessa área, o manicuro e o pedicuro acabam sendo pouco conhecidos ou raros, mas que existem. Eu por exemplo, desconhecia. E para saber mais a respeito e tentar ganhar uma graninha, consegui uma vaga de pedicuro assistente, no Salão das Beldades. Mei Lin, uma chinesa, era a dona do salão. Brava e muito exigente, ela coordenava tudo do caixa. Eu iria trabalhar com a Cibele, uma manicure "top" de lá. Curso rápido e lá veio o nosso primeiro cliente. Com todo respeito, uma loira linda que fazia muito jus ao nome do salão. Serviço feito e sem reclamações. Até gorjeta eu ganhei. Logo na sequencia, veio a segunda. Uma beldade morena. O papo estava muito bom, mas o meu celular tocou. Era um amigo que estava perdido e precisava muito se localizar para não perder um compromisso. E ai vocês sabem como os "italianos" gesticulam enquanto falam, não? Eu comecei explicar, e esqueci que estava com o "alicatinho de cutícula"  nas mãos. E foi só eu dizer para ele subir a rua,  que acabei ultrapassando a área da cutícula do dedão dela. Também, quem mandou fazer tudo ao mesmo tempo? O grito dela, a bronca da dona e o meu bico, foram imediatos. Eu mal entrei e já estava na rua. Mil desculpas para a cliente que se aventurou comigo.E viva o papel do pedicuro! #UmBico PorDia     

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

34 #Frentista


É necessário encher o tanque para continuar a busca por um emprego. E por falar em tanque, você lembra combustível, posto e FRENTISTA, essa figura que pode ser fria, mas que na maioria das vezes é tão bacana, que nos fazem sempre voltar ao posto onde somos bem tratados. É o funcionário virando amigo. E como seria pegar um bico de frentista? Só tinha um jeito de saber. E o Seu Amarildo, do Posto Menina, a quem agradeço desde já, me proporcionou essa experiência. Se desse certo, quem sabe eu não subia pra gerência ou futuramente, montava meu posto? Seria um posto de observação de aves. Se precisa-se abastecer, só com álcool, pois assim daria a minha contribuição para um clima mais saudável. Mas voltando ao bico, saibam que no período da manhã eu abasteci vários carros, dois caminhões e cinco motos. Tudo com álcool. O freguês até pedia gasolina, mas eu colocava álcool. Ok, eu sei que não deveria fazer isso, mas minha ideia foi e continua sendo poluir menos. E aí chega um fusca antigão. Daqueles bem cuidados, sabe? Coisa de colecionador. O motor era a gasolina, mas pensei: por que não abastecê-lo com álcool? Seria como se ele estivesse tomando uma dose de cachaça pela primeira vez. Sem que ninguém visse, cumpri o prometido. Tanque cheio. Mas na hora que o fusca deu partida, um som estranho saiu e "boom"! O motorista não tinha andado andado nem 10 metros, e o carro engasgou e pifou. Xi, e agora? Fui acusado de adulteração de combustível, vejam só! Eu não adulterei, mas apenas troquei por um mais saudável. Só isso. Pensar no ambiente é tão ameaçador assim? Agora vou ter que bancar uma limpeza de fusca. Enfim, viva o papel do frentista! #UmBicoPorDia

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

33 #Lixeiro

Lembro que quando era pequeno ia passar as férias na casa de meus avós, em Piracicaba (SP). E uma das inúmeras lembranças, era a caixinha que meus avós davam religiosamente para o jornaleiro, o guarda da rua e para o LIXEIRO. Todos os anos era assim. Sempre trataram com respeito a todos. Até os pedintes, as vezes, ganhavam comida quentinha feita por minha avó. Mas esses trabalhos sempre deram muito conforto para os meus avós (para quem não seria?). Ser lixeiro, por exemplo, não é tarefa nada fácil. Imaginem ter que acostumar com o cheiro que tempera cada saco de lixo? Deve ser que nem trabalhar em fábrica de chocolates e bolachas. Depois de um tempo, você nem sente mais o cheiro. Apesar de que com o lixo é outra história. Ele tem uma infinidade de fragrâncias nada agradáveis. Em bom estado é uma, azedando é outra e se decompondo então... Como biólogo, seria interessante ver como todo esse processo funciona. Da coleta ao aterro sanitário. Se eu ficasse no aterro separando o material, iria perder a aventura e o corre corre de pegar os sacos de lixo e correr para jogá-lo na caçamba e ao mesmo tempo tomar cuidado para não ser deixado pelo caminhão. Então lá fui eu pegar um bico na Pega & Corre Resíduos, uma empresa pequena que serve poucos bairros da cidade. O trabalho exigiria muito preparo físico, pois pegar o saco, correr e lançá-lo no caminhão é treinamento de atleta. Dei conta de uma rua, da outra, mas na terceira, o cansaço bateu. Eu não queria demonstrar isso para o restante da equipe, então engoli o cansaço e lá fui eu pegar os sacos. O problema é que eu peguei e lancei o saco tão forte, que ele não caiu no caminhão, mas bateu no vidro de um carro que estava subindo a rua. O saco abriu todo e o carro parou na hora. Era macarrão, casca de frutas, papel higiênico...espalhados por boa parte do veículo. Com todo aquele lixo, o motorista do carro, não conseguiria ver nada. Ele estava possesso. E com razão, claro! O minimo que eu poderia fazer, além das desculpas, era limpar toda aquela sujeira. Perguntei se poderia entrar no carro e ele deixou. Acionei a água e os limpadores para amenizar a situação do vidro. Não adiantou, pois espalhou mais ainda. O dono do carro disse que ia me pegar e entrou no carro. Rapidamente eu abri a porta do passageiro e sai correndo. Ufa! Obrigado a Pega & Corre Resíduos pela oportunidade, mas fui um lixo com vocês, não? E viva o papel do lixeiro! #UmBicoPorDia    

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

32 #Vendedor

Hoje em dia, a figura do VENDEDOR DE SAPATOS é dividida pela comodidade de se comprar pela internet. As pessoas preferem escolher e decidir com um "click". Eu sou daqueles que gosta de ir até a loja, ver a vitrine, escolher, calçar e de dar umas voltas antes de passar o cartão. E foi exatamente pensando assim, que decidi procurar um bico em alguma sapataria. A Casa de Calçados José Garcia, foi a primeira que entrei e que logo me contratou. O dono, um espanhol pequeno e bravo, foi logo me apresentando a casa e como deveria vender. Meus primeiros clientes chegaram todos juntos. Uma família de cinco pessoas, ou melhor, dez pés que eu tinha que calçar. Ah! Uma família de geeks (são aqueles que cultuam tecnologia, jogos eletrônicos, histórias em quadrinhos etc)As crianças queriam os chinelos da Turma da Mônica. O pai, queria os do Wally (aquele personagem de blusa e gorro listrados que todo mundo tentar procurar.) e a mãe, os do iron-man (aquele trilionário que veste um cofre de ferro). Achou estranho? Relaxa, pois os geeks são mesmo excêntricos. Eu nem posso falar muito, pois também cultuo alguns personagens dos quadrinhos e do cinema. Enfim, tudo ia muito bem, até eu trazer os chinelos da mãe. Era de se notar que ela era obesa, então, eu quis sugerir um chinelo que fosse confortável. Os do Iron-man eram muito finos, e certamente isso iria sobrecarregar os joelhos dela (lembrei das aulas de anatomia!). E aí tomei a liberdade de sugerir os do Hulk (aquele que quando está maduro e tranquilo, volta a ser verde e irritado.). Ela perguntou a razão da troca. Eu disse que eram mais confortáveis. E ela retrucou com um grito: "Você está me chamando de gorda?". A loja parou. Todo mundo passou a se concentrar em mim e na devota do Iron-man. Eu ainda disse que não, pelo contrário, minha sugestão foi para garantir conforto a ela. E ela disse que iria me processar por preconceito e que iria dizer a todos que a Casa de Calçados José Garcia era um antro do desrespeito aos clientes. Não demorou muito para o pequeno dono aparecer e com um gesto de toureiro, me colocar para fora da loja. As pessoas ficam tão na defensiva que interpretam tudo como preconceito. Pô, vamos devagar aí, hein! Viva o papel do vendedor de calçados! #UmBicoPorDia      

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

31 #Marmorista

A história da minha família teve e tem intima relação com rochas compostas de quartzo, feldspato e mica e/ou por outras compostas de calcita ou dolomita. Desculpem, é a Geologia falando mais alto. Eu quis dizer que até hoje tenho familiares que ganham seu pão no setor de granitos e mármores. Embora eu seja biólogo, conheço pelo menos meia duzia de "pedras" (vou chamar assim, pois é um termo mais popular. Geologicamente falando, o correto seria chamá-las de rochas!) muito bem. Que marmoraria iria negar trabalho para alguém com essa ligação tão intima? Bem, várias negaram, pois acharam que eu seria espião de alguma concorrente. Entretanto, o Seu Amparo,  da "Marmoraria F.L.", acreditou em meu potencial e foi logo me colocando para o serviço de identificação e separação das pedras. Elas até estavam enfileiradas, mas com tanto entulho em volta, ficava difícil me aproximar delas para identificar. Notei um cabo de aço bem enferrujado rodeando todas as pedras. Como ele não parecia estar sob pressão, eu decidi cortá-lo com um alicate grande que encontrei por lá. O problema é que o cabo tinha  pressão. E só tinha, pois estava amarrando todas as placas. E aí vocês já sabem o que aconteceu, não? Todas elas caíram em um efeito dominó. Aquilo subiu um pó, mas um pó que por alguns minutos, dificultou a visão geral. Quando passou, era pedra quebrada para todos os lados. O Seu Amparo chorava e eu me desculpava, é claro, mas ao mesmo tempo, dizia a ele que poderia trabalhar com os cacos fazendo chão, mosaicos etc. Mas não teve jeito! Voltei pra rua. E viva o papel do MARMORISTA! #UmBicoPorDia