sábado, 7 de fevereiro de 2015

62 #Desinsetizador

Quando estava na faculdade de Biologia, a minha disciplina predileta era (e sempre será) a Zoologia, a ciência que estuda os animais. E lembro que o principal trabalho que deviamos entregar era montar um insetário, ou seja, uma pequena coleção de insetos. Alguns colegas sofriam só de pensar que teriam que fazer. Claro que isso nem se compara ao sacrifício dos insetos, que infelizmente eram capturados, sacrificados, montados e devidamente etiquetados no insetário. Como eu já montava os meus insetários desde pequeno, graças aos ensinamentos do meu avô naturalista, não tive problema algum. Eu sempre fui bem seletivo na captura e me preocupava em evitar ao máximo seu sofrimento. Se alguém da família achasse um inseto morto, já sabia muito bem quem deveriam avisar. Muita gente tem nojo, medo e fobia dos insetos e outros seres rastejantes. Posso estar enganado, mas acredito que a maior parte das pessoas os desconhece profundamente. E quando existe espaço, as lendas e crendices se apossam e resistem às informações corretas a respeito do maior grupo do Reino Animal, os insetos. Tenho um colega de faculdade, o Luciano, que montou há um tempo atrás, uma empresa de desinsetização. Quando ele ficou sabendo que eu estava desempregado, não pensou duas vezes e me ligou, já que estava precisando de um DESINSETIZADOR que fosse biólogo, na equipe. Logo pela manhã a meu desafio era ir até uma casa na Zona Sul, que segundo os donos, vivia recebendo muitas baratas e as vezes, aranhas e escorpiões (só para deixar claro que aranhas e escorpiões não são insetos, mas aracnídeos, ok!). Logo que cheguei na rua dessa casa, vi que ela ficava entre dois terrenos baldios com mato alto e cheios entulho e lixo. Conclusão mais óbvia? Os bichos usavam a casa como abrigo e os terrenos como "restaurante". As baratas se multiplicavam com a oferta de alimento e isso passava atrair predadores, como as aranhas e escorpiões. Depois de alertarmos os donos que teriam que denunciar para a Prefeitura, a situação dos terrenos baldios, faltava agora dar uma olhada na casa. Olha aqui, olha ali, olha lá e nada. Em todo o caso instalamos iscas para as baratas e aplicamos os devidos produtos em cada canto daquela casa. Quando estava para sair, resolvi dar uma olhada em um móvel grande, logo na entrada da residência. E não é que achei uma Nephila, uma aranha inofensiva, de muitas colorações e que é muito comum de ser encontrada em sobrados e varandas, onde constrói suas teias. O estranho era ela estar no chão, já que gosta mesmo é dos cantos nas alturas. Mas quando vi que a dona da casa estava passando um rodo com pano nos cantos do teto, logo imaginei o que havia acontecido com a "dona aranha". Quando o dono da casa notou que eu havia encontrado uma aranha, logo exigiu que eu a matasse. Eu disse que era uma aranha inofensiva, que contribui para controlar a população de muitos insetos....mas ele foi irredutível. Claro que eu não iria deixar a aranha dentro da casa, mas iria realojá-la em outro lugar fora da casa. O dono disse que eu deveria matar a aranha ali mesmo, para ele ter certeza. Eu disse que não mataria ali e em nenhum outro lugar. O Luciano interviu e disse para eu fazer o que o cliente dizia. Eu disse que não. Ai eu pensei, vou simular que a matei e tiro ela daqui sã e salva. Peguei o produto e quando estava para encenar o "seu sacrifício", cadê a aranha? Ela havia sumido. Olhei para um lado, olhei para o outro e nada. Quando me levantei para dizer que não a encontrei, o dono saiu correndo junto com a mulher, o Luciano que já era um medroso na faculdade, foi atrás. Eu não entendi nada. Fui até atrás para perguntar o que houve, mas foram parar do outro lado do quarteirão. Caramba! O que aconteceu com eles? E quando passei pelo carro da empresa, percebi pelo reflexo no vidro, a aranha sobre a minha cabeça. Rs. O bico não deu muito certo, mas a aranha até "sorriu" para mim! E viva o papel do desinsetizador! #UmBicoPorDia             

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