quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

47 #Vidraceiro

Ser transparente como o vidro. Parece até um ensinamento vindo do Sr. Miyagi (quem não conhece, dê um Google), mas não é, Daniel San! É ser franco e aberto. Eu prefiro até achar que é uma qualidade de muita gente, mas por acabarmos lembrando mais das pessoas que sao o contrário disso, chegamos a conclusão que as transparentes são mesmo raras. Mas agora chega desse papo de auto ajuda, pois tenho mais um bico pra confidenciar, o de VIDRACEIRO. Esse importante profissional pode até não ser transparente, mas sua matéria prima depende dessa qualidade. Sempre que uma janela quebrava em casa, por bola, tênis, bolinha de gude, ou qualquer objeto de uma brincadeira ou briga entre irmãos, que atingia uma das coitadas, recorríamos ao Seu Paulo, um vidraceiro que tem sua venda aqui na rua de casa. Graças a ele, peguei um bico de auxiliar de vidraceiro. Minha função era de auxiliar, claro, mas também de fazer a entrega e a instalação.Depois de um curso rápido com o Seu Paulo, onde aprendi a manipular a massa de vidraceiro e até a cortar vidros, fomos para a minha primeira entrega. Deveríamos instalar uma janela de correr na área de serviço de um apartamento da Vila Mariana. Chegando lá, vi que o cliente tinha uma hábito em comum comigo, o de observar aves. Aliás, a casa dele inteira tinham esses incríveis animais emplumados como base da decoração. Logo na entrada, um quadro com duas araras-canindé pintadas e acasalando, repousava acima do sofá da sala. Na cozinha, os azulejos estampavam sabiás, pica-paus e corujas. O gosto dele tanto que nos recebeu com um boné que imitava a cabeça de um grou-coroado. Eu gosto muito das aves, mas até agora não me passou pela cabeça, vestir um pijama de mocho-dos-banhados, passar a chamar os outros com vocalizações de aves ou ter a cama em formato de ninho. Pode não parecer, mas saibam que minhas faculdades mentais ainda estão em pé. Mas vamos voltar para a instalação da tal janela. O Sr. Cuco (me permitam chamar o cliente assim, ok?) não desgrudou de nós um minuto. Ele precisava ter certeza de que nós não iriamos derrubar o comedouro de aves, que ele fixou do lado de fora da janela. Segundo ele, os sabiás-laranjeira, sanhaçus-cinzentos e dos coqueiros, cambacicas e os periquitos-ricos, dependiam daquela "mesa" todo santo dia. E eu tenho que dar crédito ao Sr. Cuco, pois ser ave nos dias de hoje, não é nada fácil. Eu estava posicionando a janela no trilho, quando de repente, nosso amigo grita: "falcão-peregrino"! Automaticamente eu larguei a janela e disse espantado a ele, "onde?". E foi dizer isso para escutar a janela se espatifar sobre o jardim do prédio. Putz! Era vidro pra todo lado. Com o barulho do impacto, só se viam cabecinhas pra fora das janelas. Gente xereta, viu! Aff! O Seu Paulo virou uma arara. O Sr. Cuco estava mais interessado em registrar o falcão que veio do Hemisfério Norte, do que a janela espatifada. Eu nem esperei a ficha dele cair para ver qual seria a ave que ele iria se transformar. Será que viraria um parente próximo? Um tiranossauro, quem sabe? Enfim, já chega o Seu Paulo ter virado uma arara. Fui embora de lá voando! E viva o papel do vidraceiro! #UmBicoPorDia

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