segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

38 #Caixa

Eu nunca fui bom em matemática. Me lembro que quando estava no colégio, vivia pensando como seria bom se ela se resumisse a fazer contas de mais, de menos e de vezes. E quem quisesse se aprofundar, poderia seguir por outro caminho. Eu podia ir mal, mas sempre me esforcei muito para resolver as coisas. Eu cresci e aprendi a me virar com as contas. Em último caso, eu teria os meus dez dedos nas mãos para ajudar a resolver o problema. Então fica claro que minha inteligência pousa em outro galho. Um bem longe das ciências exatas. Sendo assim, quem é que imaginaria que um dia eu iria procurar bico de CAIXA? E não é que eu peguei um bico de caixa em uma grande rede atacadista de materiais de construção, a Dumbo Elétrico. O trabalho não teria muito segredo, pois quem faria as contas não seria eu, mas, felizmente, o computador. Ufa! Entretanto, tinham umas teclas de abertura, fechamento, de chamar o gerente e a de perigo, Essa última só poderia ser usada se realmente houvesse uma situação de perigo. Como aquela unidade já tinha sido assaltada muitas vezes, eles criaram um sistema de segurança altamente eficiente. Pensei comigo, nunca vou precisar usá-la. Bom, a loja abriu as oito da manhã. mas as sete e meia, eu já estava sentado no caixa. Como o preço dos produtos eram muito convidativos, a loja sempre estava cheia de gente. E quando ela abriu, muitos clientes já aguardavam para entrar. Eu nunca vi uma loja de construção atrair tanta gente. O trabalho ia muito bem, Eu contava até piadas e fazia rápidas caricaturas dos clientes. Era uma alegria só. O problema veio no momento em que eu atendia uma senhora de andador. Quanto a ela, nenhum problema, mas se eu não fosse tão atrapalhado, não teria batido na tecla de perigo. Uma sirene começou a tocar, as portas da loja se fecharam numa velocidade enorme, uma grade subiu do nada, e fechou eu e a senhora. Todo mundo estava paralisado e olhando para o meu caixa. Eu até perguntei se estava tudo bem, mas essa foi a pergunta que eles faziam para mim. Me diziam a todo momento para ter calma. Cinco minutos depois, entram na loja vários policiais armados até os dentes. Como em um esquema de guerra, os policiais foram lentamente se aproximando do meu caixa dizendo sempre, para eu ficar calmo e não reagir. Eu não estava entendendo mais nada e de repente, a polícia joga uma lata de gás lacrimogênio. Eu gritei e disse para eles que havia uma senhora ali. Mas eles nem se importaram e continuavam a se aproximar. Nesse tempo eu já não conseguia ver nada por causa do gás, mas escutei um policial negociar com a senhora, a sua rendição. O efeito do gás foi passando, passando e a minha visão voltou. Voltou ao ponto de eu nota algo bem estranho no andador da senhora. Era um fuzil em uma de suas pernas (do andador, claro!). Eu fiquei paralisado com aquela situação. Quem poderia imaginar que aquela velhinha fosse tão barra pesada? Como estávamos cercados, ela se entregou numa boa e disse que eu estava marcado na lista negra dela. O dono da rede  veio pessoalmente me cumprimentar pelo ato de bravura e heroísmo. Tudo por que eu bati na tecla por engano? Eles nem acreditaram, claro. Só sei que esse bico me deu tanto medo, que pela primeira vez eu resolvi pedir para ser colocado na rua. Eu, hein! Tô fora! E viva o papel do caixa! #UmBicoPorDia         

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