terça-feira, 20 de janeiro de 2015

46 #Livreiro

Eu já falei pra vocês (bico #40), as bancas sempre foram lugares de passagem obrigatória pra mim. Mas quando o destino são os sebos e as livrarias, aí a coisa muda de dimensão. Eu juro que poderia ficar dias e dias nesses lugares. É uma relação que começou através de meu avô e do meu pai, duas pessoas que foram essencias para essa aproximação sensorial, sentimental e de conhecimento com os livros. E poder garimpar, manusear, sentir seu cheiro e lê-los, é sempre muito bom. Tudo bem que eu tenho uma pilha de livros ainda para ler, mas enquanto isso não acontece, eles estão bem seguros aqui em casa. E já que eu tenho essa intimidade com os livros, por quê não ir atrás de um bico com eles? E foi exatamente o que eu fiz. A Traça Cultural, uma livraria famosa por proporcionar até as traças, leitura agradável. A razão disso tudo é que eles tem uma sala fechada por vidros, onde os livros que estão muito avariados são literalmente devorados por esses invertebrados estudiosos. E os clientes podem acompanhar essa leitura demolidora, enquanto passeiam pela livraria. Bom, a minha função era dupla. Seria LIVREIRO e ao mesmo tempo, cuidaria da saúde das traças. Para cuidar delas eu deveria ficar de olho na temperatura, na umidade e na escolha dos livros que seriam devorados no mês. Logo que cheguei para iniciar o bico, verifiquei as condições meteorológicas e bibliográficas da sala. Como estava tudo certo, passei a minha segunda função, ou seja, a de vender os livros. Entre consultas e vendas, eu corria para a seção de "Pais e filhos" e tentava absorver o máximo de informações que encontrava por lá. Quando a gente tem o primeiro filho, surgem milhares de dúvidas. As mães até tiram de letra, mas para nós pais que passamos a viver entre diferentes bicos (de chupetas e mamadeiras), fraldas, roupinhas e choros, é sempre aquele estado de não saber o que fazer e nem para onde ir. Com o tempo vamos ficando mais seguros ao ponto de até brincar com coisas que nos tiravam o sono. E não é que encontro "O Confissões de um Pai Despreparado" (Panda Books) , um livro bem humorado e que fala exatamente dessa minha atual fase. Eu não queria mais parar de ler. Os clientes iam chegando e eu dizia para procurarem outro atentendente, pois como sou pai, eu tinha que terminar aquele livro antes de fazer qualquer outra coisa. Eu até via que os clientes estavam falando algo, mas eu estava tão compenetrado na leitura que não escutava absolutamente nada. Foi como tirar o som da televisão, sabe? Mas dai o som voltou. E era o som do dono da livraria, o Seu Jorge Grilo, que esbravejava para que eu desse o fora da livraria. Eu até tentei convencê-lo a deixar que eu terminasse de ler o livro, mas não teve jeito. O bico pode não ter dado certo, mas pelo menos sai de lá menos despreparado. E viva o papel do livreiro! #UmBicoPorDia       

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